Resenhas

The Magic Numbers – Alias

Novo álbum do grupo inglês quase abusa das referências clássicas de Pop

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Ano: 2014
Selo: Caroline
# Faixas: 11
Estilos: Indie Rock, Alternativo, Rock
Duração: 51:07min
Nota: 3.5
Produção: Romeo Stodart

Algumas bandas com carreira erguida ao longo da década passada geralmente são acariciadas pela crítica como donas de um mérito único: serem capazes de reproduzir sonoridades de outras épocas com perfeição. Lembro de ler elogios a The Strokes dizendo que a banda emulavam o Pós Punk novaiorquino muito bem. The White Stripes também conseguia, segundo ouvidos duvidosos, obter sons próximos das guitarras de Led Zeppelin, The Killers tentava ser o novo U2, enfim, novas maneiras de ouvir a mesma coisa. Em alguns momentos, determinados grupos estiveram próximos de trazer alguma novidade a caminhos já visitados, mas quase sempre permaneceram distantes do grande sucesso, do topo das paradas. The Magic Numbers foi um desses conjuntos, capaz de propor melodias angelicais, arranjos elaborados e acertar a centímetros do alvo em algumas vezes (caso de seu maior hit, Forever Lost, do álbum de estreia, de 2005) mas, por algum motivo, se perdia em algum momento do percurso.

Pra quem não sabe, a banda é formada por dois casais de irmãos: Romeo e Michele Stodart e Angela e Sean Gannon. Desde sempre procuraram recuperar algo do mágico Pop dos anos 60/70, resgatando influências interessantes, desacelerando um pouco a ânsia de crueza e falta de rebuscamento mínimo, típico da música feita naquele início de anos 2000. Hoje, 14 anos e três álbuns depois, Magic Numbers continua nesta busca, acertando perto do alvo de vez em quando. Alias tem mais coesão que os álbuns anteriores mas ainda padece de um certo transbordamento de influências que atrapalha no resultado final das canções. É como se o ouvinte fosse submetido a várias “cabras-cegas”, para apontar as referências e cada passagem/arranjo/interpretação e isso pode ser bastante chato para quem não é crítico musical e se liga nesse quebra-cabeças como, bem, eu me interesso.

As cordas em looping, lembrando a interseção Disco’n’Beatles da Electric Light Orchestra 79′, de END, por exemplo, são lindas. As “mil músicas em uma” que compõem a faixa de abertura, Wake Up, encadeiam-se com gentileza mas pouca naturalidade. O arranjo apocalíptico/solene de Roy Orbison também é uma beleza. Faz homenagem ao sujeito do título da canção (se você não conhece, larga esse texto aqui e vá se informar) e às belas criações de gente como Glen Campbell. You Know já tem um clima mais oitentista, que fica no início da década, com mistérios e andamentos com bateria duplicada que desaguam em uma baía de vocais, cordas e guitarras. Accidental Song é apoteótica, Better Than Him é misteriosa e noturna, Enough começa estranha mas logo encontra caminho no Pop setentista mais genérico e Black Rose fecha os trabalhos, lenta, entrecortando silêncios e explosões, com vocais delicados de Michele Stodart.

Talvez seja necessário ouvir bastante Alias para realmente entrar no clima revisionista espero que ele propõe, mas não se engane: é boa música, cheia de boas intenções e desejo de acertar. A banda só precisa deixar de lado essa necessidade de parecer o primeiro aluno da classe de Teoria das Referências da Música Pop que já será de grande ajuda.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.