Resenhas

The Muffs – Whoop Dee Doo

Trio californiano traz Powerpop dourado em seu novo álbum

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Ano: 2014
Selo: Cherry Red
# Faixas: 12
Estilos: Punk Pop, Indie Pop, Rock Alternativo
Duração: 37:13min
Nota: 3.5
Produção: Kim Shattuck

Ah, as pequenas e saltitantes musas alternativas dos anos 1990…Como não amá-las? Tanya Donelly e Kirsten Hersh (Throwing Muses), Louise Post e Nina Gordon (Veruca Salt), Monique Powell (a vocalista gatinha do grupo Save Ferris), a vozinha de cristal de Mary Lorson (Madder Rose), Stacy Jones (Letters To Cleo) – elas eram muitas e faziam a delícias de meninos e meninas. Provocavam desejos e “inspirações” nos primeiros e serviam de modelo para as segundas, sempre com guitarras e baixos nas mãos e um talento acima da média para cravar melodias chicletudas nas mentes mundiais. Elas eram musas, não divas como se diz hoje em referência a gente como Rihanna e Beyoncé. Acreditem, há uma diferença abissal.

Kim Shattuck era uma musa de segundo escalão. Sua banda The Muffs era privilégio dos americanos que viam programas como o 120 Minutes na MTV bombante. Na ativa desde 1991, o então quarteto transformou-se em trio, com a chegada do baterista Roy McDonald e a confirmação do baixista Ronnie Barnett, a partir de 1994, com Shattuck fechando o trio na guitarra e vocais. Como a maioria das bandas “de mulherzinha” daqueles tempos, a receita sonora de The Muffs era composta por generosas porções de Punk californiano com doses de Powerpop setentista e uma pitada de modernidade novaiorquina via Blondie. Funcionava, não tinha erro. Apesar do primeiro e homônimo álbum de estreia ter feito bonito junto à crítica, o estouro de público veio com a segunda bolacha, Blonder And Blonder, lançada em 1995, puxada pelo hit Sad Tomorrow. No mesmo ano, a cover de Kids In America (Kim Wilde) era uma das principais canções da trilha sonora do filme Clueless, conhecido aqui como As Patricinhas de Beverly Hills.

The Muffs sempre foi econômico em álbuns. Whoop Dee Doo é o sexto em 23 anos de carreira e o primeiro em dez anos. Kim Shattuck esteve envolvida com Pixies na última reunião da banda, convidada para tocar baixo, mas foi substituída em pouco tempo e decidiu reativar seu grupo e o resultado é adorável, à prova de envelhecimento ou nostalgia. Kim mostra que está com as cordas vocais em ordem logo na primeira faixa, o single Weird Boy Next Door, sobre as pessoas estranhas que tangenciam nossas vidas, sem que possamos fazer nada. As guitarras são o ponto alto do disco, devidamente suportadas pela argamassa sonora erguida pela cozinha de McDonald e Barrett. Ainda que o álbum seja moderno e crocante por si, há detalhes que vão fazer os saudosistas se encantarem. São muitos: O apito de guitarra inicial de Paint By Numbers; o lirismo setentista na base do “menina-sente-saudade-de-menino” que povoa Like You Don’t See Me; a dancinha à la Rita Pavone de Take A Take On Me, com coquetéis coloridos na beira de uma piscina cenográfica; o decalque de Weezer em Up And Down Around; Where Did I Go Wrong e seu andamento raivoso; a gaita beatlemaníaca de Cheezy; a perfeição Powerpópica de Forget The Day, direito a corinhos fazendo “oh, la la”; a homenagem ao Rock sessentista inglês genérico em I Get It e Because You’re Sad; as guitarras pipocantes de Lay Down e a beleza atemporal mezzo balada, mezzo canção de catarse que é Forever.

The Muffs oferece um singelo banquete neste novo álbum. Recupera também a saudável aliança de meninas com guitarras e atitude, algo que parece ter sumido do “identikit” atual do estilo. Conheça, você vai gostar.

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BOM PARA QUEM OUVE: Blondie, Nirvana, Weezer
ARTISTA: The Muffs

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.