Resenhas

The Naked and Famous: Simple Forms

Banda neozelandesa faz álbum “mais Pop do que Synth” sobre fim de relacionamento

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Ano: 2016
Selo: Somewhat Damaged
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo, Synthpop
Duração: 40:23
Nota: 3.0
Produção: Thom Powers

Simple Forms é o terceiro álbum do grupo neozelandês The Naked And Famous. A princípio uma dupla, formada pelo casal Thom Powers e Alisa Xayalith, evoluiu para uma banda completa quando efetivou músicos que participavam das turnês iniciais. Após dois trabalhos arejados e militantes na frente Synthpop/Indiepop, os sujeitos chegam a uma encruzilhada, digamos, sentimental: Thom e Alisa não estão mais juntos e optaram pela realização do álbum assim mesmo, enfrentando a proverbial roupa para ser lavada. O resultado, a menos que o articulista esteja ficando com o coração endurecido pela idade e pelas inclementes marretadas da vida, não é tão fiel na tradução desta suposta ressaca pós-matrimônio, ainda que o disco tenha arranjos, digamos, mais adultos que os antecessores.

Há exemplos de álbuns que tornaram-se clássicos justamente por refletir relacionamentos despedaçados, sendo, talvez, Rumours, lançado por Fleetwood Mac em 1977, o mais conhecido de todos, uma vez que não fazia qualquer questão de esconder traições, barracos, discussões e o clima péssimo durante as gravações. Guardando as proporções, o que temos aqui é um produto Pop como qualquer outro, com o padrão de qualidade igual ao de sempre. Powers gravou as bases em seu estúdio particular em Los Angeles, Alisa colocou as vozes e, voilá, mais um disco no mercado. Vejam, ataco aqui apenas o bafafá sobre dilaceramento sentimental como combustível evidente numa obra que se diga conceitual sobre o assunto. Não é.

Mas é um disco ruim? Não, é bom, no sentido, nota 6 do termo. Não vai mudar sua vida, apenas fornecer espécimes oscilantes no terreno tecladeiro/sintético usual presente no mercado hoje em dia. A produção de Powers é bem feita, valoriza bastante as texturas de baixo sintetizado e teclados, fornecendo um espaço suficientemente grande para a voz de Alisa brilhar e tentar transmitir emoções diversas com razoável precisão. Apesar de esforços nítidos em obter esta sonoridade contemporânea, marca do Synthpop 2016, essa maçaroca ainda soa muito parecida (ou seja, sem novidades) com o que era feito em meados dos anos 1980, por gente tão distinta quanto Human League ou mesmo os suecos Roxette, em suas aparições iniciais e mais próximas do terreno tecladeiro.

O que salva tudo e ainda deixa a conta do grupo com algum saldo é a qualidade das composições. Há bons exemplos de canção Pop por aqui, ainda que muito imersa neste padrão sintético, mas que ganham a batalha contra a mesmice na maioria das vezes. A primeira faixa, Higher, parece saída diretamente das paradas de sucesso de 1986, cheia de andamento em midtempo, com pinta de canção que poderia ter feito parte da trilha sonora de um filme como Top Gun ou algo no gênero. Se a ideia era recriar um clima desta época, o pessoal acertou na mosca. Apesar de começar com o verso “Promise that you will rescue me and find me with your energy”, a boa My Energy faz bonito no arranjo que mescla guitarras e teclados com boa dose de mimetismo e um ritmo que oscila entre momentos serenos e explosões controladas perto do refrão. Outra canção neste clima, um pouco mais reflexiva, é Backslide, mais tensa e fluida, no entanto. O grande momento do disco chega na última faixa, a bela Rotten, que tem um belo trabalho percussivo, dosa bem nos climas e conjura bom instrumental com momento vocal especialmente inspirado.

The Naked And Famous segue firme, ao que parece. Não sabemos se haverá alguma mudança na formação ou mesmo se o ex-casal conseguirá trabalhar junto após a separação. A banda tem potencial já parcialmente demonstrado e pode fazer um disco melhor que este. Mesmo assim, repito, Simple Forms não é mau, apenas não emociona. Seguimos de olhos e ouvidos ligados.

(Simple Facts em uma música: Rotten)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.