Resenhas

The Notwist – Close To The Glass

Cinco anos após o último disco, conjunto alemão lança álbum rico em conteúdo e lirismo

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Ano: 2014
Selo: Sub Pop/City Slang
# Faixas: 12
Estilos: Eletrônica
Duração: 47:31
Nota: 3.5
Produção: Markus Acher

Não há problema em se sentir caminhando por uma vastidão urbana meio desolada, ao cair da tarde, enquanto as canções do novíssimo disco dos alemães de The Notwist fizerem carícias auriculares em você. As texturas, os timbres, a voz supostamente monótona de Markus Acher, tudo conspira na direção de uma paisagem desolada em que multidões vão e vêm, movidas por leis da Física que se parecem com o acaso puro e simples. Para quem nasceu e conviveu com sonoridades eletrônicas no cotidiano, seja nos menores e mais inesperados ambientes e circunstâncias, a incorporação desses sons por parte da música do Notwist é natural, orgânica e simples.

Quem os ouve aqui não pode supor que o início da banda foi nas alamedas do Grunge e dos sons mais pesados. Foi assim em 1991/92, quando gravaram seus primeiros trabalhos, Notwist e Nook. Ao longo dos anos 1990, o grupo, inicialmente formado pelos irmãos Micha e Markus Acher e o baterista Martin Messerschmidt, incorporou as sonoridades eletrônicas gradativamente, de uma maneira que evitou cortes abruptos ou perda súbita de fãs. Pelo contrário, seu som foi tornando-se naturalmente estéril, seco, povoado por paisagens oscilando entre um branco neve e um cinza de construções de concreto. O grupo tornou-se quarteto com a entrada de Martin Gretschmann em 1998 e manteve sua formação original até 2007, quando Messerschmidt deixou a banda e foi substituído por Andi Haberl.

Close To The Glass chega cinco anos após o antecessor e pisa fundo na sonoridade eletrônica, de modo inédito na obra da banda. Se antes havia a mistura de estilos e uma certa dificuldade em perceber onde acabavam os sons “normais” e iniciavam os blips e blops, agora tudo parece fazer parte de uma mesma liga musical. Lembra The Postal Service e DNTEL, sobretudo na inefável qualidade de guardar tiques melódicos típicos do Rock Alternativo do fim da década de 1990, como uma espécie de núcleo inalcançável. Você sabe que está lá, mas é difícil vê-lo. A abertura com Signals já traz um “fraseado” cibernético que poderia vir de algum jogo vintage de Atari 2600, sem que haja dificuldade de imaginar, ao mesmo tempo em que salta aos ouvidos um som de arranhão, que logo se mescla a uma percussão eletrônica, sinuosa na medida certa. A faixa título, logo em seguida, é tem batidas e palmas sintetizadas, que são engolfadas por uma espécie de abdução rítmica. Logo elas voltam e o ciclo se repete. Kong, a terceira faixa, parece saída de um disco antigo do Yo La Tengo ou de Death Cab For Cutie, cheia de guitarras e vocais dobrados, Into Another Tune traz de volta a obliquidade eletrônica, a estranheza de uma quase imperfeição, mas que faz sentido após alguns instantes. Casino tem violões e melodia plácida, que vão encontrar com revestimentos mais gélidos ao longo dos pouco mais de três minutos.

From One Place To Another é outro bom exemplo de como uma levada computadorizada pode ser dançante e dolente, paz que de desfaz diante do cyberharcore de 7 Hour Drive, também de pedigree 100% anos 1990. The Fifth Quarter Of The Globe funciona como uma vinheta de pouco mais de trinta segundos, dando espaço para Run,Run,Run e sua batida marcial e solene, enquanto mais desolação surge com Steppin’ In, com cordas sintetizadas e violão perdidos no vazio, quase funciona como um aperitivo para a melhor canção do disco, a instrumental Lineri, majestosa em seus quase nove minutos de duração, que pavimentam o caminho para o encerramento com They Follow Me, ideal para um passeio num ringue de patinação que congelou no inverno.

Close To The Glass é rico em conteúdo, sonoridades e lirismo. É música eletrônica moderna, cheia de referências ao passado, sem soar datada, vintage ou hiperbólica. É um disco belo e triste, como muitas vezes é quase tudo o que vemos e ouvimos.

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BOM PARA QUEM OUVE: Yo La Tengo, Dntel, The Postal Service
ARTISTA: The Notwist
MARCADORES: Eletrônica

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.