Resenhas

The Orb – No Sounds Are Out of Bounds

Duo de música Eletrônica completa 30 anos de carreira com ótimo disco

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Ano: 2018
Selo: Cooking Vinyl
# Faixas: 12
Estilos: Ambient Techno, Eletrônico
Duração: 70:22
Nota: 4.0
Produção: The Orb

Parece incrível mas The Orb está celebrando a impressionante marca de trinta anos de carreira e 19 álbuns, entre colaborações, gravações ao vivo, coletâneas e discos autorais e cheios de material inédito, caso deste ótimo No Sounds Are Out of Bounds. Essencialmente, The Orb é a marca sonora musical registrada de Alex Paterson, hoje um quase sessentão, que arremessou a música eletrônica inglesa para os anos 1990 (e talvez para o século 21), quando inventou algo que definiu paradigmas de modernidade na música: o tal do Techno Ambient ou Dub Ambient. Seu raio de ação ia (e ainda vai) de Pink Floyd ao Dub jamaicano, sem cerimônias. Além disso, seu talento para samples e panoramas sonoros também permaneceu imune à ação do tempo. Alex é, acima de tudo, um arquiteto sonoro, um cara que ergue cenários, paisagens e impressões. Acho que Brian Eno concordaria em chamá-lo de “não-músico”.

A imprensa estrangeira recebeu este novo disco com alguma reserva. Afinal de contas, The Orb soltou alguns singles prévios com duração curta e acessível, prontos para tocar em programas de rádio não muito caretas. Depois, com a chegada do álbum per se, os ânimos se acalmaram com a constatação de faixas enormes, dentro do estilo mais clássico do duo, que Paterson conduz ao lado de Thomas Fehlmann desde 1995. Aqui a dupla recebe convidados de longa data, como o baixista/produtor Youth, Roger (irmão de Brian) Eno, Jah Wobble e a cantora Hollie Cook, entre os mais cotados, mantendo firme a sua convicção de contemporaneidade/fidelidade ao que pensam ser o caminho mais interessante e arrojado, quase na fronteira entre a música popular e algo que ainda não está muito bem definido, mas que parece deixado de lado pelos artistas atuais em suas criações.

Dos tais “singles acessíveis”, a ensolarada belezura que é Doughnuts Forever, com participação de Wobble no baixo, salta aos ouvidos e vai parar já na lista pessoal de melhores do ano deste que vos escreve. A levada mistura restos de Air com alguma malemolência Philly Soul que só pode ser produto induzido da imaginação. Os três minutos e meio são poucos para o potencial da faixa, levando a gente a querer versões remix enormes, que estiquem seu potencial ao máximo. Ainda nesta categoria acessível, também merecem destaque a chapada Wolfbane, com uma linha de baixo gorducha, que conduz uma bateria eletrônica de baixo orçamento intencional e samples da vizinhança, num clima preguiçoso e confortável. A colaboração com Hillm Rush Hill Road é uma fofura semi-dançante e suburbana, no melhor sentido do termo.

Os épicos ainda são o melhor de The Orb, ainda que eles estejam, de fato, um pouco menores que o normal. Other Blue Words, por exemplo, tem percussão e bateria que vão sendo engolfados por si mesmos e se transformando em outras linhas e assinaturas sonoras, com uma sutileza de alguém que pinga combustível nuclear com conta-gotas. A faixa de abertura, Wish I Had A Pretty Dog se mostra ideal para festivais, com uma linha de baixo 100% Reggae na propulsão. A popesca Easy On The Onions leva samples e pianos para o mesmo lugar, lembrando como Pink Floyd poderia soar hoje em dia e abre caminho para dois ótimos momentos: a anti-Trump Ununited States e a assombrosa e cinematrográfica Soul Planet, descendente direta dos melhores trabalhos do duo em todos os tempos.

Talvez No Sounds Are Out of Bounds seja um disco discos mais convidativos de The Orb, capaz de mostrar como a música Eletrônica vai além da condição de trilha sonora de comerciais de energéticos ou barulho produzidos por “DJs”. O que Paterson e Fehldmann entregam está num ponto equidistante entre arte e, sei lá, ciência. Uma beleza atemporal.

(No Sounds Are Out of Bounds em duas músicas: Doughnuts Forever e Soul Planet)

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BOM PARA QUEM OUVE: Bonobo, Air, Pink Floyd
ARTISTA: The Orb

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.