Resenhas

The Streets – None of Us Are Getting Out of This Life Alive

Mike Skinner retorna quase uma década depois, convoca colaboradores ilustres e soa atento e intenso – no discurso e na música

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Ano: 2020
Selo: Island Records/Universal Music
# Faixas: 12
Estilos: Rap Alternativo/Eletrônica/Rap
Duração: 38'
Produção: Mike Skinner

The Streets é um projeto/banda de Rap/Rap Alternativo/Eletrônica. Criado em Birgminham, a segunda maior região metropolitana da Inglaterra, ele coloca seu criador – o produtor, compositor e rapper Mike Skinner – para dialogar sobre pautas importantes no país, sempre com olhar periférico e atitude Punk. Depois de grande sucesso nos anos 2000, uma pausa de quase uma década aconteceu desde seu último álbum (Computers and Blues, 2011), e o jejum de lançamentos foi recentemente quebrado com a mixtape None of Us Are Getting Out of This Life Alive.

Sim, foi muita informação em um só parágrafo, mas: 1. Saber tudo isso é essencial para entender o disco, e 2. Essa é exatamente a sensação ao escutá-lo. Há muito acontecendo em cada uma das 12 faixas, e ainda mais quando elas são somadas em uma só obra. São diversos estilos executados, vários temas – dos mais corriqueiros aos mais reflexivos – trazidos nos versos e pelo menos um convidado por música. Como um título desses dá pistas, a audição é, no mínimo, intensa.

Isso é explicado também por outra pergunta que fica nas entrelinhas ali da introdução: por que lançar algo novo agora? Não é arriscado responder observando não apenas essas faixas, mas também outros nomes britânicos com lançamentos recentes, como Sleaford Mods e IDLES (que participa do disco). A questão é que, com uma grande crise sócio-política no Reino Unido (que resultou, entre outras consequências, no Brexit), esses artistas que herdaram a alma Punk de seus conterrâneos de décadas atrás estão se vendo no momento de estar em atividade.

O mais interessante em None of Us…, no entanto, é perceber como ele chega –  veja só – sem medo de ser Pop. Tanto é que a faixa de abertura, a mesma lançada como single meses antes da mixtape, é “Call My Phone Thinking I’m Doing Nothing Better”, parceria com Tame Impala. Ela começa com o refrão e compacta seus versos em menos de três minutos (tudo bem aos moldes do mainstream em 2020). Se esse formato não se repete ao longo do repertório, ele ao menos baixa a guarda do ouvinte, que recebe uma grande injeção de nervosismo nas faixas seguintes – a começar pela #2, a que dá nome ao disco, com IDLES (e tudo o que você pode esperar desse encontro).

Mesmo quando “I Wish You Loved You As Much As You Love Him” parece querer trazer algum alívio em seus primeiros dançantes segundos, a tensão logo é trazida tanto nos timbres, quanto na franqueza da letra ao tratar sobre um relacionamento ruim “If you walked away from him, then you would win/That’s no cappin’ / But, baby, you like to be disrespected often  /Bitch, you have different options”). Faixas como “Falling Down” e “I Know Something You Did” são outras que seriam mais tranquilas, não fossem essas escolhas de produção que nos relembram a tal intensidade natural desse lançamento.

O que fica da audição, além daquela sensação de quase uma “sobrecarga” – de receber tanta informação sonora e textual em tão pouco tempo – é a noção de que, por mais heterogêneo que o repertório seja, há ali uma maneira muito interessante de se pensar a música enquanto comunicação. Um bom exercício de escuta e reflexão para quem quer entender melhor como a produção pode (ou deve?) servir à mensagem. Ao mesmo tempo, é admirável como aquela aura Pop nunca diminui a urgência de seus temas, ou mesmo os banaliza. É uma obra que nos relembra também que os tempos são mesmo outros, tanto para o mundo como um todo, quanto para o ouvinte individualmente, na maneira com que ele consome música. Sobreviverão os artistas como Mike Skinner, que sabem dialogar com os assuntos mais relevantes na fluidez dos gêneros musicais e, não menos importante, concebem o déficit de atenção desta geração. A mixtape é prova disso.

(None of Us Are Getting Out of This Life Alive em uma faixa: “Phone Is Always in My Hand”)

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ARTISTA: The Streets

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.