Resenhas

The Strokes – The New Abnormal

Com canções enxutas e menos espaço para devaneios, aguardado retorno é capaz de seduzir tanto pelas composições quanto por nostalgia

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Ano: 2020
Selo: Cult, RCA
# Faixas: 2
Estilos: Indie Rock, Pós Punk, New Wave
Duração: 45'
Produção: Rick Rubin

A capa de The New Abnormal, novo álbum do The Strokes, traz a imagem de um pássaro que se sobrepõe a alguns grafismos sobre um fundo azul e amarelo. A pintura é de autoria de Jean-Michel Basquiat, célebre artista que ficou conhecido pelos grafites que fazia em prédios abandonados de Manhattan durante a década de 1970 e que, com o passar dos anos, tomou conta de galerias e exposições ao redor do mundo. Intitulada Bird on Money, a obra é uma homenagem ao saxofonista Charlie Parker, ídolo do pintor.

Ao estampar a capa do sexto trabalho da carreira com ela, a banda liderada por Julian Casablancas parece – mais do que fazer uma referência literal aos artistas que homenageia – querer resgatar uma atmosfera nova-iorquina noturna e boêmia. Pano de fundo do cenário no qual a banda despontou como uma das grandes novidades da música mundial na virada para os anos 2000.

E isso, portanto, serve para indicar que o álbum de estreia, Is This It (2001), é o ponto focal do interesse da banda por aqui. O resgate do mesmo espírito de outrora parece ser uma maneira que a banda encontrou para reavivar a carreira – em pausa há sete anos, com os integrantes dedicando-se às suas respectivas carreiras solo. A produção, a cargo de Rick Rubin, recria a atmosfera marcante do debute da banda: um som abafado, quente, que envolve a voz de Casablancas e das guitarras dedilhadas e parece saído de algum porão no centro da cidade.

O andamento do trabalho, no entanto, denota algum tipo de cansaço. Em alguns momentos, músicas fazem referência direta a outras canções, emprestando melodias assumidamente – caso de “Bad Decisions”, que emula o refrão de “Dancing With Myself”, hit de Billy Idol. Parece sintomático que o videoclipe da faixa, um dos primeiros lançados para a divulgação do álbum, mostre manequins que ocupam o lugar dos integrantes originais. Aqui, a banda denuncia uma espécie de inconformidade, como se estivesse sendo vendida como um simulacro de si mesmo. E em meio a essa inconformidade, as composições seguem afiadas, como demonstra-se em “The Adults Are Talking” e “Brooklyn Bridge To Chorus”.

Contudo, apesar da energia vista em The New Abnormal não se comparar à potência do início da banda, a produção revela um novo tipo de visão de mundo. Com canções mais enxutas em termos de arranjo, com menos espaço para solos e devaneios, a premissa do disco é divagar a respeito dos tempos apocalípticos que vivemos, especialmente em relação ao desastre do aquecimento global que se anuncia. Embora menos engajado no discurso político, The Strokes triunfa em traduzir um sentimento de angústia em canções que trazem o ouvinte para perto e o abraçam – seja por acordes, melodias e harmonias, ou pela força da nostalgia.

(The New Abnormal em uma faixa: “Bad Decisions”)

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ARTISTA: The Strokes

Autor:

é músico e escreve sobre arte