Resenhas

The Weeknd – Starboy

Álbum carrega alguns dos melhores singles de sua carreira, mas avança pouco desde de “Beauty Behind The Madness”

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Ano: 2016
Selo: The Weekend XO, Inc.
# Faixas: 18
Estilos: R&B, Pop
Duração: 68:00
Nota: 3.5
Produção: The Weeknd, Doc McKinney, Ali Payami, Ali Shaheed Muhammad, Ben Billions, Benny Blanco, Bobby Raps, Boaz van de Beatz, Cashmere Cat, Cirkut, Daft Punk, DaHeala, Dan Wilson, Diplo, Frank Dukes, Jake One, Jr. Blender, King Henry, Labrinth, entre outros

É sempre difícil prever qual será o próximo passo na carreira de The Weeknd. De protegido de Drake a maior representante de uma nova vertente alternativa do R&B, tornou-se ainda um dos nomes mais influentes da geração atual da Música Pop. Após uma carreira consistente, que evoluía um degrau de cada vez, Starboy é seu primeiro disco após decidir pegar o elevador e chegar num patamar que poucos já experimentaram. Abel Tesfaye, nos últimos anos, especialmente depois do single Can’t Feel My Face, deixou de ser o músico no qual grandes nomes se inspiravam para renovar seu repertório e passou a ser protagonista de tudo isso.

Assim como em outros discos de nomes que frequentemente são citados ao seu lado, como Kanye West e Drake, é fascinante a sinceridade com que assumem curtir ao máximo a nova vida de extravagâncias que conseguiram alcançar. The Weeknd não chega a exaltar a vida de drogas, mulheres e festas inalcançáveis. Sua particularidade está em fetichizar justamente a decadência destas experiências, a solidão da vida noturna. No entanto, pra uma geração que se mostra cada vez mais solitária em suas vidas ordinárias, ouvir histórias de alguém que é solitário em mansões de Hollywood, com Lamborghinis, McLarens, e acorda com uma garota diferente a cada dia, não parece uma experiência tão desinteressante assim.

Um dos problemas de Starboy no entanto, está em repetir estas mesmas histórias de uma maneira menos inteligente do que já fez em outros discos, como na mixtape House Of Balloons, de 2011, destacada recentemente em nossa coluna Fora de Época. Party Monster, por exemplo, traz os versos “Got up, thank the Lord for the day / Woke up by a girl, I don’t even know her name”, que mais banalizam a experiência do que a retratam de forma criativa.

Mesmo sendo fácil de perceber The Weeknd batendo na mesma tecla em sua temática, o disco já reflete uma das vantagens do sucesso, que é no capricho de sua produção. Uma variação de estilos que deixa o longo álbum bem menos cansativo do que outros com o mesmo número de faixas. A inclusão de certos detalhes na melodia junto com a sensibilidade dançante digna de poucos nomes do Pop praticamente adormece nosso olhar crítico para a ausência de mais ousadia em buscar novos caminhos para sua música.

A inspiração oriental em Reminder, a baladinha “voz no ouvido” True Colors ou a guitarra de Sidewalks – três das melhores faixas do disco e entre as melhores de sua carreira – conseguem ir além de apenas soarem como emulações de algum outro estilo. The Weeknd já havia mostrado em Beauty Behind The Madness que é um interessado no que de melhor é feito na música Pop mundial e que tenta a partir daí incluir sua precisão para melodias contagiantes e sua voz marcante, transformando isso tudo em seu som. Starboy continua de onde parou em seu último álbum, talvez apenas acrescentando mais peso às suas colaborações.

Daft Punk, dupla presente no já estourado e excelente single Starboy, é sem dúvida alguma a participação mais marcante, principalmente por não ser um nome que empresta seu talento e imagem a qualquer projeto. O verso de Kendrick Lamar em Sidewalks vem logo em seguida, na faixa que mais destaca as origens de ambos em regiões pobres e violentas de suas respectivas cidades. Future e Lana Del Rey estão presentes também, com faixas menos memoráveis, mas que devem agradar quem acompanha ambos os nomes.

O que talvez mais impeça o trabalho de The Weeknd ser mais lembrado como álbum completo seja o fato de que todos os elogios feitos acima englobam apenas cinco ou seis faixas em um álbum com 18. Seu restante é formado por músicas menos interessantes, que lembram um período do R&B Pop mais industrializado que tocava nas rádios no meio da década de 2000, o que acaba destacando ainda mais a superficialidade de suas letras.

Starboy parece mais um álbum portfólio de The Weeknd, lançado com o objetivo principal de carregar alguns de seus excelentes singles, acompanhados de faixas coadjuvantes que com o sucesso de Tesfaye podem – e devem – acabar encontrando seu espaço em playlists e trilhas sonoras por aí. A sensação de estar acompanhando o auge da carreira de um artista que já provou ter um talento raro é inspiradora pra qualquer fã de música, resta saber se servirá também para inspirar The Weeknd ou se será apenas mais um empurrãozinho para dentro de sua zona de conforto.

(Starboy em uma faixa: Sidewalks (feat. Kendrick Lamar)

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BOM PARA QUEM OUVE: Drake, Justin Timberlake, Frank Ocean
ARTISTA: The Weeknd
MARCADORES: Pop, R&B

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.