Resenhas

Thom Yorke – Tomorrow’s Modern Boxes

Músico segue a herança deixada por si mesmo

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Ano: 2014
# Faixas: 8
Estilos: Eletrônico, Eletrônico Experimental
Duração: 37:27
Nota: 3.5
Produção: Thom Yorke, Nigel Godrich

Falar sobre Tomorrow’s Modern Boxes, o novo lançamento solo de Thom Yorke, é como resgatar dois assuntos emblemáticos vindos de seu Radiohead, aqui, todavia, transferidos a um contexto em menor escala e de teor pessoal: o flerte eletrônico pós-Kid A e a estratégia de distribuição alternativa de In Rainbows. Esta última, vale lembrar, embora não tenha sido inédita ou exclusiva, foi capaz de abalar a estrutura normativa do mercado musical da época, dado o alcance do grupo e também sua atitude em liberar o próprio álbum (diferindo da pirataria) por qualquer valor à escolha do ouvinte, maleável e sem o intermédio das restrições lucrativas das gravadoras.

É bem sabido que o “flerte eletrônico” de Radiohead evoluiu para o status de relacionamento já há algum tempo, e, assim, Tomorrow’s Modern Boxes parece muito bem encaixado num contexto que continua o rastro deixado por The King Of Limbs. Os elementos eletrônicos aqui são a supremacia sonora: das bases etéreas hipnóticas provocadas pelas batidas eletrônicas, passando pelas interferências mais escancaradas (como o panning inquieto de A Brain In A Bottle), até a voz de Yorke, que é sampleada de modo a se tornar apenas mais um dos elementos sintéticos de seu álbum, tudo remete a muita manipulação experimental.

Ou seja, a atmosfera Eletrônica que dava as caras de ornamentação nas canções em The Eraser, seu primeiro álbum solo, aqui se torna status quo e faz parte de sua gênese, seu DNA. E, embora Tomorrow’s Modern Boxes não soe tão instigante ou revolucionário quanto Kid A, este é um trabalho de dois extremos: a da exploração inteligente de uma herança deixada por si mesmo e o do bom gosto estético ao experimentar com música Eletrônica.

Quanto ao seu método de distribuição, o álbum pode ser baixado em um download pago feito em parceira com o BitTorrent. Um teste que se utiliza os entremeios do sistema digital para tentar convencer o consumidor a voltar a pagar por música (você já sabe a nossa opinião por aqui, não?). Thom Yorke, como alguns outros artistas inquietos, já atestou que o experimentalismo é o seu padrão de trabalho, e se utiliza de sua criatividade e da projeção de seu nome para instigar mudanças em nosso comportamento. Tem que ouvir.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte