Resenhas

Thundercat – Apocalypse

Em seu segundo disco, o virtuoso baixista faz um trabalho mais acessível e que brinca com um R&B através de sua voz.

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Ano: 2013
Selo: Brainfeeder
# Faixas: 12
Estilos: Jazz, Indie R&B
Duração: 37:00
Nota: 4.0
Produção: Thundercat, Flying Lotus

O período entre a década de 40 e 50 compreendeu uma grande evolução nas bandas de Jazz. Diferentemente da concepção que temos atualmente do que é um grupo musical, naquela época, tais coletivos funcionavam ao redor da figura do músico líder. Ele poderia ser um saxofonista como John Coltrane, um pianista como Herbie Hancok e Thelonious Monk, trompetista como Miles Davis ou um contra-baixista tal qual Charles Mingus foi. A verdade é que realmente não importava qual era o instrumento tocado, e sim o maestro que conduzia a trupe. Stephen Bruner, mais conhecido como Thundercat é um virtuoso baixista e Apocalypse é o seu segundo trabalho solo.

Após participar de grupos Suicidal Tendencies, tocar na turnê e nos discos de Erykah Badu ou simplesmente co-produzir um disco do Flying Lotus, Bruner é daqueles músicos conhecido pelo excesso de trabalho e pelo amor ao seu ofício. Em seu mais recente disco, ele comanda ao melhor estilo jazzístico das décadas passadas, uma banda que pulsa ao redor de seu baixo. No entanto, a música aqui não é necessariamente instrumental ou cabeçuda, feita para os apreciadores desta forma de arte mas, sim, para um público mais plural devido as diferentes inspirações para este disco.

Vemos aqui as linhas de um Jazz moderno, cheio de elementos eletrônicos que tem o parceiro Lotus como vanguardista mas com algumas diferenças básicas. Ela é na maior parte das suas vezes cantado por Bruner em um timbre em falsete que é uma espécie de R&B, enquanto o principal instrumento de improvisação é o seu baixo, tendo os outros elementos pouca divergência ao longo das faixas. Isto não é necessariamente ruim, e músicas como as excelentes Tenfold e Special Stage são demonstrações deste estilo que expande as linhas de baixo para outros alcances.

O instrumento aqui deve ser considerado a melhor parte da música de Thundercat com composições melódicas e sinceras com um instrumento, na maioria das vezes, tão grave e direto. No entanto, o trabalho de voz se destaca nas músicas, funcionando de acompanhamento a tais linhas, alcançando as mesmas notas e ritmos. Em Tron Song, por exemplo, ambos funcionam de forma perfeita e trazem um sincronismo exemplar. Desta vez a bateria eletrônica é mais distoante, e mesmo eletrônica, consegue fugir de padrões pré-estabelecidos.

Momentos instumentais também estão presentes como Seven e The Life Aquatic, vertente mais vista no primeiro disco do músico. Os momentos de real brilho, além dos belos R&B vistos em Without You, com sua linha de baixo dançante e calma, lembrando nomes vistos na década de 70 ou a balada Evangelion, aparecem quando podemos sentir mais elementos orgânicos. Oh Sheit, It’s X é pura improvisação e diversão em seus curtíssimos 43 segundos, enquanto a bateria pode ser sentida em Lotus and the Jondy, faixa funkeada que traz um groove incrível.

A épica A Message for Austin/Praise the Lord/Enter the Void, dividida em três partes e com quase sete minutos duração traz uma boa transição entre um primeiro momento sendo conduzido por um orquestra e alguns simples timbres de percussão. A segunda parte transita por um lado mais instrumental e viajado, com uma condução em uma batida mais tribal até terminar silenciosamente. O conjunto de todos estes elementos: baixo pulsante, voz vibrante e um lado mais orgânico de composição é vista no melhor-momento-do-disco Heartbreaks and Setbacks. Nele o instrumento grave tem uma linha interessantíssima, subindo em sua escala em um ritmo dançante e o vocal de Bruner mostra o seu potencial nesta faixa mais funkeada, que fará qualquer fã do último disco do Daft Punk se empolgar.

Em seu segundo disco, Thundercat foge um pouco de uma demonstração virtuosa em que somente podemos perceber a excelência de seu baixo. No entanto, tal opção mostra-se acertada ao possibilitar um ótimo trabalho de voz, e um trabalho mais acessível dentro do que podemos chamar hoje de Jazz eletrônico progressivo. Sim, tal sigla já assusta qualquer um logo de cara, mas com estas linhas de baixo dificilmente reproduzidas por aí e que demonstram o seu talento na música atual, além de um vocal mais equilibrado com as sua composições fazem de Apocalypse um interessante disco.

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BOM PARA QUEM OUVE: The Weeknd, Frank Ocean, Flying Lotus
ARTISTA: Thundercat
MARCADORES: Indie R&B, Jazz

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.