Resenhas

Tindersticks – Ypres

Novo álbum do grupo sonoriza exposição permanente sobre Primeira Guerra Mundial

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Ano: 2014
Selo: Lucky Dog
# Faixas: 6
Estilos: Ambient, Trilha Sonora
Duração: 54:16min
Nota: 3.0
Produção: Stuart Staples

Se você é fã deste grupo inglês, surgido na primeira metade da década de 1990, sabe bem de três verdades: Tindersticks é, na verdade, o multinstrumentista e cantor Stuart Staples e uma quantidade variável de músicos, dependendo da ocasião. Sabe também que Staples é um cara estranho e genial, que oscila entre trabalhos convencionais de Pop clássico, evocando gente como Lee Hazlewood e Scott Walker, cantando sobre o lado escuro da vida. E a terceira máxima é que, de vez em quando, Tindersticks assina trilhas sonoras e projetos paralelos completamente diferentes de sua assinatura musical habitual. Este é o caso deste curioso álbum, Ypres.

Há um museu belga chamado The Flanders Fields, situado na cidade que dá o nome ao álbum, cujo objeto de exposição é, especificamente, um dos conflitos armados mais violentos da História, a Primeira Guerra Mundial. A direção da instituição achou que seria uma boa ideia chamar Staples para que ele elaborasse peças musicais para sonorizar os diferenes ambientes sobre o conflito, situados ao longo do próprio museu. Com o objetivo de conferir a moldura sonora e amplificar o clima proporcionado pelos diferentes objetos, Staples elaborou longas peças instrumentais tendo em comum o uso de tons baixos e sombrios, com muitos violinos e efeitos especiais.

A abertura com Whispering Guns, Pt.1, 2, 3 é intencionalmente monótona, conduzida por um lento e amplo espectro de violas e violinos, devidamente turbinados por um insistente sino de campanário soando ao longe. A impressão que temos é de algum combate acontecendo sem que possamos ouvir o som das armas, exceto por raros momentos, quando eles são reproduzidos em efeitos bastante convincentes. Ananas Et Poivre segue por caminho semelhante, mas há certa ressonância melódica ao longo da peça, mas guardando em comum o clima de desolação e desespero após o combate.

Le Guerre Souterraine funciona como sonorização de um ambiente claustrofóbico e estranho, seguida por Gueules Cassées, a mais triste do álbum, conduzida pelo lamento solitário de instrumentos de sopro soando desconexos em meio a uma paisagem cinzenta. Sunset Glow já eleva o tom do painel musical e abre espaço para os vinte minutos e meio de The Third Battle Of Ypres, com contornos épicos e ressoando no passado do próprio lugar onde está situado o museu.

As seis canções formam um atestado de memória em forma de sons para ajudar na construção da identidade do lugar, das pessoas e legitimar a própria função do museu. Poucas vezes um artista Pop – ainda que não convencional – teve chance de exercer esse papel e Tindersticks cumpre esta inusitada missão com louvor.

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BOM PARA QUEM OUVE: Jeff Buckley, Brian Eno
ARTISTA: Tindersticks

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.