Apesar de acumular mais de duas décadas de carreira, o grupo japonês toe chega somente agora ao seu quarto disco de estúdio, NOW I SEE THE LIGHT. Formado no começo dos anos 2000, o quarteto atraiu a atenção de público e crítica com uma mistura instrumental potente entre math rock, post-rock e jazz, dosando esses elementos a cada lançamento, além de adicionar alguns novos – da inclusão de vocais a traços de pop e hip-hop (ímpeto que culminou no ótimo Hear You, de 2015).
Os nove anos que separam as obras trouxeram novas ideias ao grupo, mas, aqui, de alguma forma, há uma retomada do período criativo pré-2015 – ainda que trazendo de Hear You o apego pelas canções. Ao longo do tempo, o grupo foi suavizando suas músicas, deixando de lado a agressividade do post-rock em favor de melodias mais intrincadas e uma bateria bem menos frenética. Isso desemboca em “Loneliness Will Shine”, faixa que traz esses elementos de forma a explorar o vocal sempre ameno de Yamazaki Hirokazu, unida aqui ao hipnotizante encontro das guitarras de Mino Takaaki e do próprio Hirokazu. Colando tudo, temos uma cozinha comedida, com bateria e baixo na medida certa para produzir os polirritmos característicos do math rock, porém sem soar tecnicista ou complicado demais.
Este novo registro tem algo de contemplativo, faceta que aparecia na obra do quarteto de forma mais diluída. Esse tom mais refinado (ou parcimonioso) é a grande característica de NOW I SEE THE LIGHT, e mesmo em faixas mais aceleradas (como em “キアロスクーロ” ou “Todo y Nada”), a delicadeza da instrumentação é o que mais se sobressai. Ainda assim, a bateria de Kashikura Takashi tem seu espaço para brilhar, seja pela singularidade das batidas na circular “Close To You”, seja na serpenteante música de abertura “風と記憶” (que ainda ganha um toque singelo do glockenspiel).
toe equilibra passado e presente em um disco que soa deslumbrante por entrelaçar belas melodias e padrões rítmicos cintilantes. Ainda que haja bastante complexidade nas acrobacias musicais do grupo, há também a percepção de simplicidade, como se delicadeza dos arranjos suavizasse o emaranhado matemático que ouvimos. Razão e emoção se unem aqui de forma incrivelmente precisa – e embora pareça haver nisso alguma incoerência, não é assim que chega aos nossos ouvidos.
(NOW I SEE THE LIGHT em uma faixa: “Loneliness Will Shine”)