Resenhas

Tom Zé – Vira Lata na Via Láctea

Bem acompanhado, músico acerta em mostrar sua poesia em formatos próprios de hoje em dia, como sempre

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Ano: 2014
Selo: 2014
# Faixas: 14
Estilos: MPB, Rock, Indie
Duração: 49:05
Nota: 4.0

Tom Zé é um moleque de 78 anos, com mais de cinco décadas de carreira e um fetiche latente por tudo o que é novo. É um poeta do realismo cotidiano, um cronista de cruas cirandas sobre o concreto, na curiosidade constante de estéticas táteis deste tempo.

É o observador que versa sem rodeios sobre wireless, laptop e smartphone logo na abertura (Geração Y), cita Beyoncé e Facebook ao longo das faixas em um retrato próprio do que é nossa vida em 2014, queira você ou não. Fá-lo, porém, na despretensão do boteco, banco de praça e post em rede social para falar de Paulo Freire e ciências sociais empíricas. São comentários tenazes tão cotidianos quanto seus temas, não tratados e teoremas defendidos em longos argumentos. É poesia da boa e do bem.

O formato escolhido para acompanhar as palavras aos nossos ouvidos é, como não poderia deixar de ser, o mais contemporâneo – um cenário cujos vários tijolos foram colocados pelo próprio baiano ao longo dos cinquenta anos de carreira. São guitarras como os mais atentos ao tempo usam, distorções e “tupiniquinismos” que uns ousam fazer, mas Tom Zé parece aprovar com espontaneidade.

E, como sempre, vem bem acompanhado. Tem Caetano e Milton, tem O Terno (em Papa Perdoa Tom Zé, de Tribunal do Feicebuqui), Criolo e um remix de SILVA, para citar alguns. Ou seja, sua filosofia de acúmulo acrescenta não apenas ao seu trabalho, mas acaba por tecer um recorte interessante da música feita no país nesta época – a consagração de mãos dadas com a efervescência.

Sem pedigrees, Vira Lata na Via Láctea nos relembra que Tom Zé não é apenas um pai de filhos ilegítimos espalhados pelo Brasil em bandas, discos e shows, mas o maior de seus bastardos. E se “quando um burro fala, o outro abaixa a orelha”, o que nos resta é prestar atenção ao que ele tem para cantar, ainda que você discorde dele – não por reverência, por consciência – e torcer para que a aposentadoria nunca faça parte de seu vocabulário.

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ARTISTA: Tom Zé
MARCADORES: MPB, Ouça, Pós-MPB

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.