Tomin, cujo nome completo é Tomin Perea-Chamblee, é um multi-instrumentista de Nova York que toca principalmente flauta, trompete e clarinete alto – e que participa do cenário musical da cidade como intérprete, improvisador, compositor e fã. Fora da música, ele é bioinformático (!) e atua na área de genética computacional com foco em oncologia.
Mas vamos nos ater a parte que nos interessa deste “homem renascentista” – que é a música. Seu álbum lançado recentemente pelo selo International Anthem, intitulado Flores para Verene / Cantos para Caramina, é uma compilação de homenagens do artista para aquelas pessoas que o inspiram. O álbum possui uma estrutura muito interessante, feito quase em sua totalidade de células sonoras (o que talvez tenha a ver com sua abordagem profissional na área da biologia): são 24 faixas, que apesar da quantidade, passam super rapidamente, e evocam paisagens internas floridas e contemplativas.
Na primeira etapa do trabalho, Tomin homenageia sua avó colombiana chamada Verene. Nesta etapa, o músico escolhe frases de seus ídolos do jazz – Ellington, Mingus, Coltrane, Clifford Thornton ou Cal Massey –, e toca as suas versões para clássicos da música, em arranjos nos quais sobrepõe instrumentos de sopro. Retiradas de contexto e fagocitadas pelo artista, essas células musicais ganham vida própria, e são reimaginadas como parte de um todo coerente. É uma abordagem inovadora para a música do século 21, que alinha, de maneira poética e criativa, nosso déficit de atenção ao infinito acesso à informação. Por ser uma homenagem à avó, as faixas têm um aspecto delicado e evocativo, e fazem lembrar a música de grandes intérpretes como Moondog ou Angel Bat Dawid.
Já na segunda parte do trabalho, Tomin homenageia sua irmã mais velha, Caramina. Neste momento, o músico deixa os instrumentos de sopro e assume o controle de sintetizadores com timbres oscilantes, tocando composições próprias que são capazes de alterar a atmosfera ao nosso redor. Igualmente delicadas, as faixas lembram alguns artistas experimentais japoneses, como o clássico Hiroshi Yoshimura e seu Soundscape Surround, por exemplo.
No mais, Flores para Verene / Cantos para Caramina é uma tradução musical muito bem-sucedida do que significa a identidade, a herança, a influência: um amontoado de pessoas que amamos e momentos criativos que nos inspiram a fazer a nossa parte.
(Flores para Verene / Cantos para Caramina em uma faixa: “Humility In The Light Of The Creator”)
