Resenhas

TOPS – I Feel Alive

Com marcante adicional de tecladista, grupo canadense reúne o que tem de melhor em disco sobre angústias (e prazeres) do amor 

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Ano: 2020
Selo: Musique TOPS
# Faixas: 11
Estilos: Indie Pop, Indie Rock, Soft Rock
Duração: 35'
Produção: Jane Penny e David Carriere

Durante a minha primeira audição de I Feel Alive, percebi que o disco remetia a todas as músicas que eu mais gostava do TOPS. O mood Indie-místico em “Rings of Saturn”, de Tender Opposites (2012), a solidão de “Outside”, presente em Picture You Staring (2014), e o Pop com charme vintage de “Further”, de Sugar at the Gate (2017).

Depois de três álbuns, o grupo refinou sua estética setentista/oitentista com uma produção detalhista, que passa longe do quase Indie Lo-Fi do disco de estreia. O que mudou também do último trabalho para I Feel Alive: a entrada da tecladista Marta Cikojevic, que adicionou robustos timbres de sintetizador, muito presente e notável nas 11 faixas. Essencialmente, Tops é um grupo de Montréal formado por Jane Penny (letras, vocais, flauta e teclado), David Carriere (guitarra) e Riley Fleck (bateria).

O resultado da nova formação foi um equilíbrio entre flertar com o passado e o êxito em não parecer datado. Pela maneira como as músicas estão organizadas, este é um disco que fala sobre os diferentes estágios de um relacionamento. Algo como a infame piada que  diz que “casamento é igual a Av. Paulista: começa no Paraíso e termina na Consolação”. Dosando estados de vigília aos pequenos sonhos que temos ao longo do dia, é um registro de como a imaginação pode manifestar desejos e também aquietar a mente frente a preocupações diárias.

Antes do lançamento do disco no início de abril, o grupo havia soltado quatro singles: a faixa título, “Colder & Closer”, “Witching Hour” e “Direct Sunlight”. Esse conjunto de músicas apresenta as teses principais. A faixa de abertura, “Direct Sunlight”, é uma balada otimista sobre inícios, muito bem acompanhada de sintetizadores à la anos 1980 e solos de flauta. Tanto nela, quanto em “Colder & Closer”, Jane usa elementos como o sol, constelações, estrelas e signos para expressar sua narrativa romântica e melancólica. (“Searching constellations / Seeing if the stars align / Signs are myths like nations”).

A dobradinha “Colder & Closer” e “Witching Hour” consagram o grupo em seu próprio gênero kitsch de música Pop, ainda que dentro do nicho das canções com guitarra. Reforçando as comparações da vocalista a bruxas modernas como Stevie Nicks e Kate Bush, a faixa com título místico surgiu a partir de uma investigação do poder feminino que existe nessa mitologia. “Viajei para a ideia de uma hora específica da noite onde surgem pensamentos inconscientes e visões desconfortáveis”, escreveu Jane em post no Instagram.

Talvez sejam aquelas ideias que surgem quando você não consegue apenas fechar os olhos e dormir. Seja etéreo (“Take Down”) ou expansivo (“Drawning in Paradise”), o repertório suspende a realidade por alguns minutos, nos quais o ouvinte é envolvido por uma paleta diversa de cores e atmosferas – vibrantes, calmas, confortáveis, solitárias, inquietantes, e tantas outras na quais somos inseridos antes da cabeça descansar. A sequência “OK Fine Whatever”e “Looking to Remember” funciona como uma menção ao Tops do passado: discretas músicas dançantes, com passos tímidos, mas cheios de personalidade. A flauta da vocalista também aparece em destaque na penúltima canção do álbum.

Os vocais suaves de Jenny são explorados em faixas calmas, porém com alta dosagem de climão. “Listen, I just don’t know who I am anymore” (Escute, eu já não sei mais quem eu sou), enfatiza em “Ballads & Sad Movies” – afinal, nem mesmo aquilo que a trazia conforto está ajudando. Já na meditativa “Take Down”, ela canta espaçadamente “Take down my photo with you/ For many reasons which we know now” (Tire a minha foto com você/ por todas as razões que conhecemos agora). I Feel Alive é um disco que fala sobre traições e reconhecer, pela rua, rostos que você não queria encontrar. Ou descendo o feed do Instagram, considerando a quarentena.

O cenário noturno encerra o álbum, com a elaborada balada setentista “Too Much” – sussurros repetem coisas que você pode vir a esquecer ao longo do dia: “I don’t want what you want/ Too much, too much” (Não quero o que você quer/ Demais, demais). Talvez você nem se dê conta, mas uma pequena lágrima pode ter sido derrubada por você mesma dentro da sua – esperada – taça de vinho depois do jantar. Não tem problema, depois de algumas horas calmas de descanso, amanhã há de nascer um novo dia.

(I Feel Alive em uma faixa: “Ballads & Sad Movies”)

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BOM PARA QUEM OUVE: TOPS
ARTISTA: TOPS

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