Resenhas

Totally Enormous Extinct Dinosaurs – Trouble

Para seu primeiro álbum, o hypado TEED criou uma obra inconstante na qual as melhores músicas são as já conhecidas dos EPs anteriores

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Ano: 2012
Selo: Polydor
# Faixas: 14
Estilos: Eletrônica, Indie Eletrônico, Electro House
Duração: 63 minuo
Nota: 3.0
Produção: Totally Enormous Extinct Dinosaurs

Atrás de todo grande projeto, há um nome que sustenta tudo. No caso do Totally Enormous Extinct Dinosaurs, ou TEED para os íntimos, é Orlando Higginbottom. O cara de apenas 22 anos traz um comportamento paradoxal: uma voz tímida com uma vestimenta exacerbada. Poderíamos, claramente, o assemelhar com o figurinista de Lady Gaga ou processá-lo por usar o cocar do Jamiroquai.

O projeto, que começou fazendo remixes oficiais de uma porrada de gente influente, já conseguiu produção de três EPs já lançados pela Greco-Roman: All In One Sixty Dancehalls, All In Two Sixty Dancehalls e Household Goods, esse último em 2010. TEED saiu totalmente do possível anonimato para os line ups dos maiores festivais do mundo. Quem ainda tinha dúvida do que Higginbottom poderia fazer recebeu o cara liderando as listas dos projetos mais promissores de 2011.

All In One Sixty Dancehalls veio com a ideia inicial do projeto, com Electrohouse e breaks, All In Two Sixty Dancehalls trouxe uma veia melancólica, porém mais provocativo, misturando bases densas com uma variedade de sintetizadores , e Household Goods teve uma pegada mais Indie. Qual seria o melhor caminho para definir o álbum do projeto que seu próprio líder intitula, amplamente, como Dance Music?

Trouble vem com uma série de faixas já conhecidas pelos fãs, como Garden, Household Goods, Tapes & Money e até a música que dá nome ao álbum. Promises, faixa que abre a obra, mostra bem a ideia de Orlando. Uma intro tímida com uma leve progressão até chegar às batidas ácidas que dão vida à faixa. Em seguida, vem Trouble, seguindo o mesmo ânimo com a overdose de synths típica de TEED batendo de frente com uma letra do tipo “You make me happy, uh I’m in trouble now”. Passando pela escura Shimmer e a já conhecida baladinha de Household Goods, chegamos um ponto diferente do álbum: Your Love. Uma faixa que tem pitadas de Calvin Harris com fortes influências de um disco syntheado dos anos 80, com direito até a vocais dignos de uma Diva. You need me on my own lembra bastante o que já vimos em álbuns anteriores do Hot Chip.

Depois de um tempo ouvindo Panpipes, me peguei pensando em determinado momento estar escutando uma música inédita do Thom Yorke. Solo é impossível não imaginar que seja uma versão piorada da base de Night and Day do último álbum do Hot Chip. Passando boa quantidade de faixas com a mesma ideia, chegamos talvez no ponto mais alto e ambicioso do projeto: American Dream, part II, um Electro que distancia totalmente do House que já tínhamos cansado de ouvir a essa altura.

Closer é a faixa mais imatura de todo álbum, com vocais em repetição, um nível altíssimo de amadorismo. Depois, vem Fair anunciando que estamos chegando quase no fim da obra, com vocais que lembram bastante uma serenidade à la Dirty Projectors. Stronger fecha o álbum apostando, mais uma vez, em synths oitentistas com uma letra de superação, até chegar na quase exata mesma base Tapes & Money.

Indie, New Disco, Electro House, Acid, R&B e boas pitadas de tudo o que envolve o bom gosto. Trouble não seguiu uma linha própria. E ainda bem que não. TEED se sustenta a partir da ideia que falamos lá no início. Higginbottom intitula seu gênero de forma tão ampla e nos prova lançando um álbum totalmente completo. Mas seria completo mesmo o adjetivo? Vou falar disso mais pra frente. De fato, Totally Enormous Extinct Dinosaurs consegue mesclar um nome complexo, criar um gênero complexo e causar complexas sensações. O conflito entre ritmos dançantes e vocais melancólicos forma exatamente a fórmula perfeita para que Orlando nos atinja da forma que queria. Uma reflexão ou comemoração do que o álbum representa, no final das contas. Não negamos que é possível sim ver grande influência de Orlando pelas batidas animadinhas do Hot Chip – ainda mais depois do lançamento de In Our Heads – ou do The 2 Bears (pra quem não sabe, Joe Goddard encabeça o selo Greco-Roman), mas vamos fingir que seja só coincidência. O mais importante de tudo é perceber um artista fortemente completo expondo elementos tão contrastantes.

Orlando Higginbottom consegue, com Trouble, causar reflexões ilustrando uma melancolia misantropa e incendiar um público de um Sónar qualquer. E, vamos combinar, isso não é pra qualquer um. Mas seria alienação da minha parte caso não conseguisse pontuar onde Higginbottom errou com seu álbum. Em determinados momentos, a obra se encontra com excesso de synths demonstrando um amadorismo que não aparentava ter. A impressão que dá é que Orlando queria fazer algo mais Pop, mas não se conteve. A maioria das músicas se perdem em determinado momento e, de fato, o que mais chama atenção, fora algumas poucas exceções, foram as faixas previamente já divulgadas.

No final das contas, não dá pra saber se Orlando teve um colapso de criatividade desde 2009 e preferiu repetir a fórmula por mais 2 anos. Não só copiou o que já havia feito nos 3 últimos EPs como quase deu um control C + control V em algumas músicas do próprio álbum. Por enquanto, preferi não focar nesses elementos, mas se Higginbottom não sair da zona de conforto que se encontra desde All In One Sixty Dancehalls provavelmente seu trabalho perderá a essência que tanto admiram.

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Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King