Resenhas

Tove Lo – Lady Wood

Segundo disco da cantora traz a conhecida profundidade psicológica de seu Pop introspectivo

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Ano: 2016
Selo: Island Records
# Faixas: 12
Estilos: Pop, Eletrônico
Duração: 39:35
Nota: 4.0
Produção: Oscar Görres, Oscar Holter, Ilya Joel Little, Tove Lo, Ali Payami e Ludvig Söderberg

É comum achar que o Pop como conhecemos desenvolveu sua forma em solo norte-americano, porém também deve se atribuir os créditos aos suecos ABBA. Com uma visão artística bastante a frente de seu tempo, o grupo imprimiu uma forma diferenciada de produzir música, utilizando truques de estúdio e estudando estruturas extremamente pegajosas que proporcionaram hits lendários. Talvez seja uma questão cultural da Suécia, pois anos depois nos deparamos com um cenário parecido: um mercado extremamente defasado pela preguiça criativa da EDM e um nome sueco vindo para trazer um diferencial marcante. Tove Lo assumiu essa carga quando Queen Of Clouds, seu fantástico disco de estreia, mostrou um artista compromissada com a construção de narrativas que iam além da superficialidade e isto parece cada vez mais ser sua motivação.

Lady Wood também nos conta uma história. Diferente dos lamentos amorosos que serviram de base para o primeiro disco, o tema aqui permeia a própria cantora principalmente em sua percepção pós-fama. É interessante como Tove Lo quer sempre nos envolver com suas composições, trazendo letras extremamente sinceras e que dialogam entre si. E como base para este diálogo, a produção do álbum toma como referências um Pop bastante pegajoso, mas ao tempo que cria texturas mais frias e introspectivas, seja a partir de melodias melancólicas ou da composição a partir de timbres mais gélidos, como pads de sintetizadores ou filtros de frequência mais baixas, dando aquela impressão de “abafado”. Desta vez, a compositora nos conta uma história dividida em dois capítulos.

A primeira parte, Fairy Dust – Chapter I, diz respeito ao êxtase do sucesso, comparando-o com Peter Pan e pó que faz as crianças voarem na Terra do Nunca. Contrário ao que pode-se imaginar, não é exatamente uma parte feliz, embora algumas composições tenham uma pegada mais dançante. Influence, parceria com Wiz Khalifa, reconhece o quão suscetível a influências externas você acaba ficando. Lady Wood, segundo Tove Lo, é uma metáfora sobre a resistência da mulher e é interessante como ela prefere usar a madeira, um elemento vivo, como comparação ao invés do metal. Cool Girl tem uma construção suingada em contraposição a letra extremamente irônica trazendo um jogo de significados de cool: legal ou fria. Assim, a primeira parte do disco traz um ar menos estereotipado do sucesso.

A segunda parte traz reflexões internas por parte de Tove Lo. O objeto de estudo é a própria cantora, agora transformada pelo sucesso e trazendo novos problemas e questionamentos. Don’t Talk About It aborda o distanciamento, comparado à sujeira que você coloca debaixo do tapete ao invés de lidar com ela. Imaginary Friend relata a fuga da realidade, a partir da criação de um amigo imaginário que ficaria do lado dela para sempre e a faria evitar de ver a crueza da vida. Ao mesmo tempo que um relato sobre depressão, Tove Lo também encontra em sua obra, os conselhos que tentam a tirar desta situação, como ouvido em Keep It Simple. Por fim, WTF Love Is bota um ponto final em questionamentos da forma mais direta possível.

Tove Lo nos conta mais uma história que também serve como terapia, tanto para ela quanto para nós. Segundo a cantora, em 2017 ela lançará mais um disco com mais dois capítulos subsequentes a esta obra. Assim, fica claro que ela é um dos maiores diferenciais na música Pop atual, trazendo uma carga psicológica muito densa ao seu disco em contraposição àquele sentimento “good vibes” que muitos artistas insistem em levar adiante. De qualquer forma, é mais uma etapa muito bem produzida e elaborada em sua carreira, nos deixando mais ansiosos para saber como esta história vai se desenrolar – a história de Tove Lo.

(Lady Wood em uma faixa: Imaginary Friend)

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ARTISTA: Tove Lo
MARCADORES: Eletrônico, Pop

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique