Resenhas

Travis – 10 Songs

Mesmo trazendo melodias e arranjos típicos da trajetória da banda, nono disco chega com cara de compilado pouco inspirado

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Ano: 2020
Selo: BMG
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 37'
Produção: Fran Healy e Robin Baynton

“This is no rehearsal, this is the take” é o primeiro verso que ouvimos em 10 Songs. A canção, sobre a vida não dar segundas chances, parece ser uma pequena metáfora para o que ouvimos neste nono álbum da banda escocesa Travis. Sem muitos rodeios, talvez até sem muito ensaio – para parafrasear o verso –, o disco chega como um compilado de músicas que pouco justificam seu agrupamento em um álbum.

Não que falte qualidade às 10 faixas que montam o repertório. Aos 30 anos de carreira, a banda conhece suas melhores qualidades e sabe levá-las ao estúdio. E as novas músicas dialogam exatamente com o que temos em mente quando pensamos em Travis. São baladas gostosas, levadas pela guitarra que ecoa o Britpop, canções de uma melancolia palpável e, ao mesmo tempo, uma vibe simpática que parece estar na essência de tudo o que o grupo faz. Ainda assim, a pergunta persiste: por que lançar um disco cuja principal característica é se parecer com seus predecessores?

No caminho para o lançamento, a banda apresentou “Valentine” entre os singles, uma ótima escolha para ganhar nossa atenção. Ela é tensa e oscilante entre humores, um tanto ruidosa e até mesmo crua em seu tratamento sonoro – mas sem perder o tom Pop (algo que Travis faz muito bem). Se nos ocorreu a ideia de que ela exemplificaria o que encontramos em 10 Songs, estávamos errados. No repertório, ela chega a destoar em meio às previsíveis baladas (“A Ghost”, a única outra música mais animadinha, vem bem aos moldes de um Rock de raiz, de ares que atravessam o Folk e beiram o Country, mas sem muita criatividade).

Por mais caprichadas que sejam, canções como “A Million Hearts”, “Butterflies” e “Waving at the Window” têm cara de feitas sob medida para trilhas sonoras de filmes, séries e até propagandas. Elas são criadas sob para agradar muita gente, nem um pouco parecidas com a energia desencanada de “Valentine”. “Nina’s Song” também é dessas que vêm para arrebatar os fãs já outrora conquistados pela banda, com um verniz Britpop para cantarmos saudosos daquela época. Em meio a tudo isso, “The Only Thing” tenta trazer variedade no dueto com Susanna Hoffs, mas entrega o momento mais – talvez o único, na verdade – insosso do disco.

Mesmo com tanto talento para criar melodias e arranjos sendo colocado em prática, Travis parece ter composto a obra com o mesmo grau de criatividade com que chegou ao nome 10 Songs. São (dez) canções bonitas, mas com pouca substância por trás das aparências, que resultaram em um álbum com cara de coletânea, sem um fio condutor que não seja a vontade de agradar o ouvinte. Fica a dúvida, no entanto, se os fãs já não estavam contentes com os oito discos anteriores.

(10 Songs em uma faixa: “Waving at the Window”)

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ARTISTA: Travis

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.