Resenhas

Trombone de Frutas – Chanti Alpïsti

Primeiro disco da banda revela maturidade plena ao criar boas narrativas

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Ano: 2016
Selo: Independente
# Faixas: 8
Estilos: Psicodelia, Folk Rock, Post Rock
Duração: 32:42
Nota: 4.0
Produção: Maycon Ananias e Trombone de Frutas

Trombone de Frutas não tem este nome a toa. Explorando os timbres do instrumento de sopro e misturando-o a diversos sabores da música brasileira, o grupo cativou seu público desde o lançamento do primeiro EP, Chanti, Charango?, apostando em um registro que, ao mesmo tempo que confortável, soava como uma viagem sonora doida que passava de um Jazz para um cover escondido de Beatles em um piscar de olhos. Com um desafio de tentar juntar esse grande universo de referências, a banda conseguiu criar algo bastante eclético onde a imprevisibilidade era uma grande aliada, tal como a deliciosa sensação de degustar uma salada de frutas e perceber que ela tem um gosto meio que de tudo que está la dentro. Com o lançamento do primeiro disco de estúdio, podemos provar um pouco mais desta deliciosa sobremesa, embora agora ela se comporte mais como um banquete inteiro.

Chanti Alpïsti tem um sabor bem mais sólido e uniforme, mas isso não significa que o disco cause sensações parecidas entre si. Os ingredientes são os mesmos, mas cada faixa os usa de formas diferentes. Há tanto acordes abertos e doces de guitarra, como explosivos riffs de Rock. O quente som do trombone entoa tanto calmas melodias, quanto fervorosas texturas para composições mais explosivas. E a mesma bateria que serve como uma cama macia para jam sessions tranquilas, também apedreja com força as agitadas e dançantes faixas do trabalho. É curioso como a banda consegue produzir com uma quantidade limitada de elementos, infinitos sentimentos ao mesmo tempo que criando uma identidade mais concisa.

Além da parte gastronômica, o disco se assemelha a um banquete principalmente na parte em que todos os convidados contam histórias. As oito faixas criam ambientes fantásticos e traçam uma linha narrativa que pode ser tanto interpretada como crônicas isoladas como um grande conto. O místico e enigmático espaço criado pelos riffs em São Gonçárabe nos transporta para um Egito antigo misturado com Rhodes. 3 Imagens esfria as coisas, por uma estrada nebulosa seguindo uma procissão. Alpha 42 nos joga para o espaço sideral onde conseguimos ouvir o imponente trombone anunciando o Sol chegando. E Tanguera nos joga de volta para a Terra, apreciando um bom vinho ao som de um Tango moderno que logo se transforma em um pesado e fúnebre lamento.

A experiência de escutar Chanti Alpïsti não é imaginar um único enredo, mas tentar buscar novos significados para esta rica narrativa. Um disco que consegue trazer uma saudável maturidade para uma banda jovem, trazendo ótimas composições que não nos seduzem apenas pela sonoridade, mas pelos sabores e sensações que nos causam. Variedade e coesão em um mesmo registro, um ato difícil de se realizar, mas que encontra um final feliz neste delicioso jantar.

(Chanti Alpïsti em uma faixa: 3 Imagens)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique