Resenhas

Tune Yards – I can feel you creep into my private life

Novo álbum segue rotina de modernidade da dupla

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Ano: 2018
Selo: 4AD
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Lo-Fi, Eletrônica
Duração: 44:12
Nota: 3.5
Produção: Merril Garbus e Nate Brenner

Tune Yards é a mente criativa de um sujeito, Merril Garbus, com o auxílio conspiratório de outro, Nate Brenner, mas isso eu imagino que você já saiba. Da mesma forma que está a par de que este I can feel you creep into my private life é o quarto álbum do “grupo” em 12 anos de carreira. É uma boa média para se ter o que eu chamo de “discografia elegante”, nada muito facinho, nada que faça os fãs se esquecerem de sua existência e é para esses, os fãs, que este novo trabalho é feito. Na verdade, quando a gente fala de tUnE-yArDs, está tornando implícito o avanço imparável em termos estéticos, o oferecimento sem cerimônia do mesmo coquetel Lo-Fi/Alternativo com pitadas eletrônicas que abraça as letras de Merril. É o que temos aqui.

Confesso que tudo isso me deixa um pouco atordoado. Soa às vezes como uma “subversão não-subversiva” de elementos que estão em processo de fossilização a cada dia, como o Rock Alternativo ou mesmo a Eletrônica, que estão perdendo o sentido diante da mudança nas relações que as pessoas – ouvintes e artistas – têm com a própria música. No caso específico da Música Pop, as vertentes e conexões vão se tornando virtualmente infinitas, ao mesmo tempo em que se encapsulam em guetos, nichos, enfim, tudo muito rápido e passageiro. Por melhor que sejam as canções, não parece que elas são feitas para durar. Sendo assim, da mesma forma que, sei lá, o smartphone que você usa hoje, elas podem não estar contigo no mês que vem. E tudo bem, segue o barco.

O que este novo trabalho tem de interessante? Tudo. Ou não. As vozes são mixadas e dispostas no espectro sonoro como gravadas em todos os cantos. Vocais se dobram, surgem sob efeitos estranhos, vêm agudas, graves, tudo junto. As melodias são surpreendentemente grudentas, coisa de quem entende do assunto. Merril e Nate, juntos desde 2009, têm a manha para construir pequenos chicletes pós-modernos em forma de canção de três, quatro minutos, uma fórmula que ainda resiste ao turbilhão de mudanças nosso de cada dia.

Exemplos desta capacidade: em primeirissimo lugar, o Funk eletrônico esquisitaço de Look At Your Hands, que já vai para minha lista pessoal de canções deste 2018. Tem balanço, no sentido “gringo branco na pista de dança”, tem timbre de bateria eletrônica datadíssima, voz esganiçada unisexy e tudo no lugar. Home, por sua vez, é lenta, com baixo fazendo blop-blop e vocais que parecem vir como a brisa da aurora boreal, que eu só vi em filmes. Mas ela tem estilo, caráter, clima e atitude. Hammer também é cheia de alternativas, soa quase como se Peter Gabriel tivesse 20 e poucos anos hoje e estivesse começando a carreira, cheio de vontade de abraçar o mundo em sete notas musicais. A última canção digna de destaque é Who Are You, que parece gravada no fundo de uma piscina, para o bem e para o mal, mas com belezura de sobra.

No fim das contas, na hora de passar a régua, temos um disco legal, bem feito e com potencial para grudar nos ouvidos mais atentos, cabendo a cada um o dever de cuidar bem dessas pequenas gotas sonoras. Frágeis, ainda que boas, elas estão em constante processo de evaporação. Agora é com a gente.

(I can feel you creep into my private life em uma música: Look At Your Hands)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.