Resenhas

TV On The Radio – Seeds

Banda retorna com seu melhor álbum até agora

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Ano: 2014
Selo: Harvest
# Faixas: 12
Estilos: Rock, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 52:50
Nota: 4.0
Produção: David Sitek

Das bandas vampirizantes das sonoridades oitentistas surgidas na cena novaiorquina na década de 2000, TV On The Radio sempre pareceu a mais consistente. Enquanto contemporâneos como The Strokes se arvoravam a enxugar instrumentos em busca do som mínimo possível, o quarteto liderado por Tunde Adebimpe sempre foi na direção contrária, pesquisando maneiras de engrandecer a abordagem musical do “menos é mais”, reinante. Também foram eficientes em adotar artistas como Talking Heads e Peter Gabriel como influências, obtendo assim aquela sensação de sempre fazer música moderna e desafiadora. Com a presença de David Sitek, um guitarrista/produtor de mão cheia, TVOTR quase sempre esteve na pole position dessa galera.

Ao longo de quatorze anos e quatro discos lançados, a banda sempre primou por bom gosto e relevância musical. Não seria agora, com a chegada de Seeds, que faria diferente. Mesmo assim, o novo trabalho é marcado pela perda do baixista Gerard Smith, morto em 2011, logo após o lançamento do álbum anterior,Nine Types Of Light. Apesar da evidente sensação de que a banda está em movimento, criando, gravando e em turnê pelos Estados Unidos e Europa, é possível notar algumas modificações e um certo sentimento de resignação. Com TVOTR, a tal abordagem dos anos 1980, tão comum a esta geração de bandas, aparece sempre encoberta por traços personalíssimos, notados aqui e ali. A produção de Sitek, que desfrutou de certo status de gênio na década passada, é reta, direta e sutil, permitindo que a criatividade do grupo seja a estrela principal.

Quartz, a canção de abertura, tem certo clima celebratório, começando com algo próximo de uma missa ancestral, para ser cortado pela voz anasalada de Adebimpe, lembrando demais Peter Gabriel. O arranjo e o instrumental cooperam para esta impressão tomar conta da audição. Careful You ainda está nos anos 80, calcada em batidas robóticas de bateria sintetizada e teclados vintage, novamente guiados pela presença vocal de Tunde Adebimpe, que pontua a melodia da canção com graciosidade. Could You tem um interessante riff permanente de guitarra Rickenbacker de doze cordas, muito semelhante à sonoridade de uma banda estranha ao catálogo de influências usuais, no caso, The Byrds. Happy Idiot lembra uma canção obscura de New Order, com levada de guitarra e baixo aerodinâmicos, lembrando bastante a sonoridade da banda inglesa em seu segundo disco, Power, Corruption And Lies, de 1983. Test Pilot é uma quase balada, com belíssima performance vocal de Adebimpe e uma impressão forte de que seria ainda mais bela com um arranjo clássico setentista. Love Stained é sintética e fluida, Ride tem andamento marcado por piano clássico e pungente, Right Now é doce e traz batida dançante que poderia lembrar um pouco de Love Is In The Air, sucesso setentista de John Paul Young.

Guitarras crocantes e expansivas abrem Winter gloriosamente, lembrando um lado B esquecido por alguma banda americana independente, lá pela virada das décadas 1980/90. Lazerray segue pelo mesmo caminho, mas com apelo irresistível para a pista de dança, cheia de teclados subterrâneos que vivem sob uma parede de guitarra, baixo e bateria. Trouble surpreende por suceder a epifania dançante sendo uma canção Pop dourada, com percussão sintetizada e clima otimista. A faixa título encerra o percurso sonoro com oscilações entre vocais sussurrados e enquadrados na melodia/arranjo com perfeita proporção.

A história do Rock está cheia de casos de bandas que renasceram após a perda de um membro importante. TV On The Radio soa renovado, leve, disposto e com sua melhor leva de canções desde o início da carreira. Seeds pode, sim, ser o seu melhor álbum.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.