Resenhas

Tyler, the Creator – Igor

Novo álbum se afasta do Rap e mostra um artista mais aberto à própria intimidade

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Ano: 2019
Selo: Columnia
# Faixas: 12
Estilos: Hip Hop, Pop, R&B
Duração: 39:43
Nota: 4

Quando Flower Boy veio ao mundo, escrevi que Tyler, The Creator parecia ser, de fato, “the boy who cried Wolf”. Isso porque após um início de carreira marcado por um teor violento, temperado pela polêmica e pelo tom agressivo, o artista fez a transição para uma música muito mais ensolarada, celebrando a sua sexualidade. Agora, com o lançamento de Igor, seu sexto álbum, o que mais chama a atenção na trajetória de Tyler, The Creator é como a sua música se altera conforme alternam os personagens que ele cria para si mesmo.

Percorrer a sua discografia é perceber um artista amadurecendo, abrindo mão gradativamente das camadas mais grossas de verniz e adotando um tom mais aberto à própria intimidade. Sim, é difícil de desviar o olhar da ultraviolence dos primeiros trabalhos de Tyler; no entanto, assisti-lo assumir suas inseguranças traz uma nova espécie de qualidade à sua música.

O personagem da vez é, portanto, Igor. O nome, me parece, toma inspiração na figura submissa, embora estóica, do servo do conde Drácula ou Dr. Frankenstein. Sendo essa a referência real ou não, não será difícil de notar que, assim como em seu trabalho anterior, Tyler fala de suas crises de relacionamento, em geral exibindo um tom ressentido e dependente em relação ao seu amante.

A diferença principal deste novo momento está na produção, que assume texturas impressionistas, timbres metálicos e camadas  sobrepostas de informação. O trabalho se afasta do Hip Hop e se aproxima do Pop contemporâneo, e, fosse Igor lançado em outros tempos, é possível que fãs reclamassem de um Rap que se apresenta quase como pano de fundo. No entanto, nada mais condizente com a fluidez de gêneros musicais que pede a contemporaneidade do que a exibida por aqui.

Em Igor, Tyler assume sua posição ao lado de artistas do calibre de Kanye West, Frank Ocean (ouça A Boy Is A Gun) e Solange – nomes que, mais do que uma óbvia inspiração, participam nos créditos do álbum. Quase não se nota o tom ameaçador e malicioso de Goblin por aqui. Sobressai, ao contrário, um Tyler cosmopolita e trendsetter, que esbanja contatos e referências culturais alternativas. Sai, por isso, a pujança de suas letras, o clima de filme de terror psicológico, e entram melodias empolgantes, feitas para serem ouvidas em algum rolê noturno da cidade grande.

O músico triunfa num aspecto que muitos artistas não conseguem domar: o de como manter sua identidade sem se repetir. Em Igor dissipa-se gradativamente o tom moleque de Tyler, o orgulho auto-indulgente de ser controverso, e ganha força um artista cool e senhor de si mesmo.  

(Igor em uma música: A Boy Is A Gun)

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BOM PARA QUEM OUVE: A$AP Rocky, Earl Sweatshirt, Frank Ocean
MARCADORES: Hip Hop, Pop, R&B

Autor:

é músico e escreve sobre arte