Resenhas

Underworld & Iggy Pop – Teatime Dub Encounters EP

Colaboração inédita não faz feio, mas poderia ser melhor

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Ano: 2018
Selo: Caroline
# Faixas: 4
Estilos: Rock Alternativo, Eletrônica
Duração: 27:28
Nota: 2.5
Produção: Rick Smith, Karl Hyde e Iggy Pop

Underworld e Iggy Pop juntos? Algumas pessoas podem estranhar que um duo Eletrônico noventista e um ícone do Rock garageiro americano dos anos 1970 colaborem num projeto, mas ambos têm algumas interseções interessantes em suas carreiras. A maior delas, sem dúvida, é a participação na trilha sonora de Trainspotting, filme de Danny Boyle, responsável, em certa medida, por uma radiografia de certa parte da juventude britânica noventista, frustrada, drogada e sem futuro em meio ao neoliberalismo instalado no planeta. A trilha, assim como o filme, teve impacto enorme nos meios alternativos e tornou-se icônica a seu modo. Iggy teve seu sucesso de 1977, Lust For Life, ressuscitado para as novas massas, enquanto Underworld entrou no mapa da música mundial com sua colossal Born Slippy. Com o novo Trainspotting 2, lançado em 2017, ambos voltaram à trilha sonora, mas sem qualquer sombra do impacto original. Mesmo assim, Teatime Dub Encounters é um EP que vem mostrar os dois artistas finalmente colaborando.

Segundo consta, as gravações aconteceram num quarto de hotel em Londres, com Rick Smith e Karl Hyde (o próprio Underworld) e Iggy, que ficou com o microfone aberto, num clima próximo da improvisação e da farra pura e simples, com o duo Eletrônico soando mais roqueiro e convencional do que o costume. Pop está confortável sendo ele mesmo, não precisa de qualquer jogo de corpo para se justificar. O tom de três das quatro canções é o mesmo do segundo filme, restando uma gloriosa exceção entre as novas composições lançadas.

A primeira faixa, Bells & Cricles é a canção que destoa. É uma endiabrada e enlouquecida correria de batistas e narrativas de Iggy sobre os tempos de ouro da aviação comercial – segundo ele – no qual era possível fumar nos aviões sem ser incomodado. Ao longo de sete minutos e meio, sobre uma bateção Eletrônica de estacas e programações frenéticas de ritmos e linhas de baixo, temos uma reverberação docemente chapada e gaiata sobre esses tempos idos. É conversa mole, claro, mas é sensacional pelo par perfeito com a barreira sonora que Hyde e Smith constroem. O ouvinte fica com sede de bola após ouvi-la e cai no marasmo das outras três canções. Trapped tem quase a mesma duração e se sustenta numa batida que poderia ser uma demo do Sigue-Sigue Sputnik safra 1987, não chega a fazer feio comparada com I’ll See Big, que é lenta e tem Iggy falando sobre amizade e superação em meio a um instrumental que pode ser uma tiração de sarro, mas que soa involuntariamente engraçado e levemente constrangedor. A última faixa, Get Your Shirt é puro technopop oitentista revisitado, meio banal e sem graça.

Ainda que a maioria do EP esteja abaixo do desejado, sua parte sensacional compensa, justifica e legitima a colaboração de Underworld e Iggy. É uma das faixas do ano e tem potencial nos deixar esperando por um novo EP ou, quem sabe, um álbum em conjunto.

(Teatime Dub Encounters EP em uma música: Bell & Circles)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.