Resenhas

Vampire Weekend – Modern Vampires of the City

Terceiro disco do grupo de Nova York chega como a sua obra mais coesa e madura, alçando o status de melhor momento de sua discografia

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Ano: 2013
Selo: XL Recordings
# Faixas: 12
Estilos: iNDIE rOCK
Duração: 42:54
Nota: 4.5
Produção: Rostam Batmanglij, Ariel Rechtshaid

É fácil julgar algo sem conhecer. O exercício é simples, basta dizer: “não gosto”. Mas ouviu ou experimentou o disco? “Não, só umas músicas”. Curiosamente, o Vampire Weekend é uma destas bandas que possuam, talvez, mais odiadores do que amantes. Não porque os segundos são poucos, e sim porque é legal odiá-los. Algo na cena torna mais blasé dizer: “eles são uma droga”. O engraçado é que quem se perdeu nesta ideologia, desperdiçou a chance de conhecer uma das bandas mais divertidas e interessantes desta geração pós-Strokes e companhia. Tudo bem, ainda dá tempo para você repensar a sua vida e escutar o melhor disco dos garotos do “hypado” Brooklyn, Modern Vampires of the City.

Já falamos aqui sobre a trilogia da banda em que o primeiro disco, o homônimo Vampire Weekend, continha uma energia típica de jovens de seus 20 e poucos anos, misturada à elementos de percussão africana e letras interessantes sendo feitas pelo líder Ezra Koenig. Recheado de hits, o disco abriu espaço para uma maior experimentação em Contra, álbum mais Pop e ao mesmo mais ousado que seu antecessor, jogando-se livremente pela história da música contemporânea americana. Alguns dizem que se parece de certa forma com Bruce Springsteen, mas a verdade é que o segundo disco dividiu os fãs em duas frentes: aqueles que procuravam a energia exalada anteriormente e outros que aceitavam muito bem os novos ares do grupo. Modern Vampires of the City realiza um grande apanhando de tudo feito anteriormente e o eleva a outro patamar, demonstrando que o grupo consegue finalmente extrapolar o seu potencial.

São poucas obras que lhe dão a liberdade de dizer logo na primeira escutada “ gostei muito deste disco”. Normalmente, ou a obra não te chama tanta atenção ou ela deve ser ouvida diversas vezes até que seja bem compreendida. Aqui, diferentemente, as faixas descem, como nas palavras da “especiaria brasileira”, Dreher, macias e reanimam. São na verdade deliciosas. Uma após a outra, elas mantém o disco coeso e realmente viciante. O que dizer de Obvious Bicycle, música de abertura que diz muito do que podemos esperar daqui pra frente: pequenas obras primas Pop. Ezra canta devagar junto com uma orquestração crescente e com um percussão quase imperceptível até o bumbo marcar a entrada do refrão e agitar um pouco mais as coisas. No entanto, a canção é uma belíssima balada. Preste atenção no cuidado com as teclas do piano ao seu final e você poderá ter uma noção do quanto a banda evoluiu.

Saudades das guitarras pulsantes do debut? Worship You é uma faixa que traz todas aquela mistura entre vozes e instrumentos rápidos que os consagraram. Diane Young recria as experimentações em música africana e Rock & Roll, e acaba transformando-se em uma grande micareta Indie. O fato do grupo sempre pensar em suas criações no palco ao vivo, nos fazem imaginar o que será de um show deles quanto esta for tocada. Todos dançando e pulando juntos, com certeza. Unbelievers é outra canção que curiosamente nos lembra muito bem o que o grupo vem fazendo nos últimos discos, mas de uma forma diferente ao mesmo. O amadurecimento é notável em cada escolha de nota, ou cada timbre que a voz de Ezra parece tomar. Agora os instrumentos parecem ser melhor domados, utilizados e são mais do que um simples acompanhamento, mostrando-se a demonstração criativa de verdade do grupo.

Rostam Batmanglij, tecladista e um dos líderes do grupo, parece conduzir o grupo como um grande maestro após a sua excursão por diversos clubes e baladas, remixando faixas e incorporando influências externas. Os trabalhos com cordas, na excelente Step, por exemplo, são um sample de uma faixa de Hip Hop do Souls of Mischief. Está é aliás uma das melhores canções do grupo em toda a sua carreira, com a ótima interação entre Ezra e Rostam nos vocais, ou as letras divertidas e contempôraneas:”Your girl was in Berkeley with her Communist reader /Mine was entombed within boombox and walkman/I was a hoarder but girl that was back then”. O poder de se criar hits nunca deixou o Vampire Weekend, e em Modern, tal habilidade parece ser melhor traduzida. Faixas como Don’t Lie ou a maravilhosa Hannah Hunt são feitas para chegar aos pontos mais altos das listas musicais mundiais. A segunda demonstra todo o poder lírico de um líder que se formou em Inglês pela Columbia University, um dos institutos de ensino mais respeitados do mundo. “A man of faith said/ Hidden eyes could see what I was thinking /I just smiled and told him /That was only true of Hannah/ And we glided on through Waverley and Lincoln”, uma faixa que passa por diversas partes dos EUA, em cada lugar uma nova demonstração de amor por Hannah até que ao final, Ezra diz: “If I can’t trust you then damn it, Hannah There’s no future, there’s no answer /Though we live on the US dollar/ You and me, we got our own sense of time”.

A melancolia interage com o Pop, que depois tange o Indie Rock em uma sequência de excelentes 12 momentos. Everlasting Arms, por exemplo, pede uma remix para ir direto para as pistas, enquanto Finger Back é mais uma demonstração furiosa do poder das guitarras swingadas do grupo. Sem antes acabar, o Vampire Weekend brinca um pouco com o Jazz e ritmos mais “quebrados” nas duas ótimas baladas, Hudson e Young Lion. A primeira, muda até um pouco o tom do disco para uma muito bem-vinda ambientação mais obscura. Se o disco é sobre os vampiros da cidade moderna porque não exemplificá-los neste momento de suspense? Teatral e, ao mesmo tempo, assustadora, é mostrado mais uma vez que o grupo não se cansa de inovar e se arriscar em novos sons. A segunda é extremamente delicada e termina muito bem o disco com sua base no piano e um contra baixo bem delineado em menos de dois minutos.

Esta vontade de se atualizar constantemente, sendo fortemente notada na transição de somente dois discos fez com que o Vampire Weekend chegasse ao seu melhor, maior e mais interessante disco. Se você é um daqueles que ainda torce o nariz sem motivos, ou por puro preconceito, este é o momento para embarcar nesta obra do começo ao fim. Posso garantir que a paixão será à primeira vista. Modern Vampires of the City chega para se consolidar como um dos melhores álbuns de 2013, e irá figurar sem sombras de dúvidas em quaisquer listas ao final do ano. Agora é esperar mais dois anos e ver se a trilogia ganha mais um interessante membro para uma já diversa discografia.

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MARCADORES: Indie Rock, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.