Resenhas

Van Dyke Parks – Song Cycled

revisitando apenas as tradições que compõem a terra do Tio Sam em forma de música, músico mantém-se como privilégio de poucos e bons.

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Ano: 2013
Selo: Bella Union 2013
Estilos: Classic Pop
Duração: 46:48
Nota: 4.5

Antes de mais nada, é preciso ter a noção que Van Dyke Parks é um discreto e simpático gênio contemporâneo da música americana. Com a carreira iniciando em meados dos anos 60, Parks logo percebeu que sua área de atuação era longe dos holofotes. Passou a atuar como músico de estúdio, especialmente nos teclados, chegando a participar do primeiro disco dos Byrds, Fifth Dimension em 1966 e arranjar algumas canções para um iniciante Tim Buckley. Parks deu um passo decisivo em sua carreira quando foi apresentado a Brian Wilson, que procurava alguém para fornecer letras para o novo disco dos Beach Boys, Smile.

A primeira canção da dupla, Heroes And Villans veio puxando o novo disco, que foi abortado mais tarde, por conta de problemas emocionais generalizados apresentados por Wilson. Já nos anos 70, Parks ainda colaboraria com os Beach Boys, sobretudo em Sail On, Sailor, de 1973, quando Brian estava ausente da banda. Ainda nos sixties, Parks teria seu álbum de estreia, Song Cycle, uma mistura de folk, jazz dos anos 50 e influências de rock. Em 1972, lançou seu segundo disco, Discover America, no mesmo esquema do anterior, sempre levando em conta a mistura de gêneros calcada em sua habilidade ao piano e teclados. Permaneceu na ativa ao longo dos anos seguintes, colaborando com nomes como Ry Cooder e lançando discos estranhos como Tokyo Rose, um álbum conceitual sobre as relações entre Estados Unidos e Japão.

Ele voltaria a trabalhar com Brian Wilson nos anos 90. Num primeiro momento, a dupla soltaria um disco brilhante em 1995, 100% California, chamado Orange Crate Art, que antecipou o retorno de Brian à produção musical. Já se passavam quase 30 anos desde que a dupla havia colaborado. O resultado foi tão bom que Brian novamente recrutou Van Dyke para retomar o trabalho de Smile, que seria relançado oficialmente em 2004. Em meio a esta atividade, Parks ainda encontrou tempo para arranjar um disco dos australianos do Silverchair, Diorama, que significou uma extensa evolução para a banda. Parks permaneceu colaborando com Brian Wilson, compondo canções para seu disco de 2008, That Lucky Old Sun, novamente com a California como musa inspiradora.

Desde 2011, Van trabalha no lançamento de singles e este álbum, chamado Song Cycled, numa alusão à sua estreia em disco, é o resultado de uma grande busca em seus arquivos ao lado de novas composições. Ele não tem qualquer problema misturar a instrumental Wedding In Madagascar com a brejeiríssima Sassafras, cheia de acordeons, para desaguar na dramática Wall Street, numa ambiência que nunca chega a se definir como rock, jazz ou música para cinema, mas dando a certeza ao ouvinte de estar numa viagem ao imaginário da América musical, absorvendo sonoridades de várias épocas ao mesmo tempo. Muito além do convencional, revisitando apenas as tradições que compõem a terra do Tio Sam em forma de música, Parks mantém-se como privilégio de poucos e bons.

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MARCADORES: Classic Pop, Ouça

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.