Como o título anuncia, Jaguar II dá sequência ao que Victoria Monét iniciou em Jaguar, EP lançado em 2020 que a colocou no mapa. A primeira pergunta que aparece com esse dado é “o que exatamente o disco continua?” – e da primeira à enésima audição da obra, a resposta que não quer calar é o desenvolvimento de um R&B em perfeito diálogo com uma música pop que a cantora e compositora ajudou a construir.
Isso porque é difícil falar de Victoria sem citar seu trabalho com grandes nomes do mainstream, como Selena Gomez, Ariana Grande e Fifth Harmony (entre outros). Se ela fez seu nome nos bastidores como compositora de mão cheia para essas vozes, seu trabalho autoral apresenta músicas com grande potencial popular, ainda que nunca abram mão de certo refinamento, um capricho extra de quem conhece e honra suas referências e quer usá-las a favor de sua criatividade. Pode parecer óbvio, pode parecer básico, mas é uma intenção que nem sempre é bem executada.
As 11 faixas que compõem Jaguar II (10 músicas originais e uma breve reprise, com cara de interlúdio) argumentam não só a favor do enorme talento que seu trabalho sempre apresenta, mas do mesmo “bom gosto” que o EP anterior trazia – um cuidado que fica evidente dos pequenos detalhes de timbre e arranjo à maneira como as músicas se apresentam. Mesmo o ouvinte leigo (de produção musical ou dessa intersecção do pop com o R&B) percebe estar diante de algo grandioso.
Quando “Party Girls” quer brincar de pop caribenho, por exemplo, a faixa transita por momentos diferentes, todos divertidos, e ainda recebe o jamaicano Buju Banton para conferir ainda mais peso à canção. Há pequenos efeitos sonoros à la ASMR aqui e ali e também a mão inconfundível de Kaytranada na ótima “Alright”. A cereja do bolo vem com a participação da lendária Earth, Wind & Fire em “Hollywood”, após a banda ter sido citada em “Smoke”, a faixa de abertura.
Jaguar II continua também a aparente busca de Victoria Monét para se estabelecer como uma das vozes mais relevantes deste novo R&B mais arejado, despretensioso nas letras e caprichoso em sua sonoridade. Ao lado de Janelle Monáe e Amaarae, ela mostra que esse é um dos melhores estilos de 2023, e as três devem figurar merecidamente entre os destaques do ano. Talvez Victoria lance um III, ou talvez mude de direção, mas a construção até agora já mostra uma carreira que tem tudo para continuar marcando época com seu próprio nome, enquanto ganha também uns bons trocados escrevendo músicas para o mainstream.
(Jaguar III em uma faixa: “On My Mama”)
