Resenhas

Wado – Ivete

Músico homenageia o Axé e nos apresenta seu olhar único sobre o estilo

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Ano: 2016
# Faixas: 10
Estilos: Axé, Samba, MPB
Duração: 24:00
Nota: 4.0
Produção: Wado

Sem nenhuma pesquisa séria para apoiar meu argumento além de muito carnaval, rádio e novela ao longo da vida, arriscaria dizer que o Brasil é um dos países do mundo com o maior número de estilos originais que conseguem manter relevância e popularidade ao longo de décadas. Uns às vezes com mais força do que outros, mas o Samba, o Funk, a Bossa Nova, o Sertanejo, o Forró, o Axé e seus milhares de derivados estão longe de serem estilos caricatos que representem nosso país pra gringos desinformados. São ouvidos diariamente pelo país e duvido que, independente do seu gosto musical, você não saiba citar um ou dois nomes de cada um desses estilos que tenha feito um sucesso enorme nas últimas décadas.

Em Ivete, nono disco de Wado, o músico consegue, sem tentar reinventar o Axé, nos ajudar a enxergar o estilo com um novo olhar. Reinterpretação talvez não seja a melhor palavra para descrever o que foi feito aqui. A sensação inicial passada pelo preciso e contagiante single Alabama é de ouvir Wado simplesmente tocando Axé. Só que sua voz carismática, seu jeito de cantar e suas referências ajudam a reviver em nossa cabeça um milhão de significados atrelados ao seu som, que, ao serem usados em prol do estilo baiano, nos aproximam da música de maneira diferente.

Já tendo mergulhado nos mais diversos campos da música popular brasileira, não seria difícil Wado construir uma carreira a ser lembrada mais pela forma do que pelo conteúdo. No entanto, canções como Samba de Amor e Amanheceu – minhas preferidas – nos lembram da perfeição de suas composições, nas quais melodia, voz e letra entram numa sintonia tão confortável e tão particular de sua obra, que a curiosidade que talvez possa ter nos atraído até aqui já tenha ficado pra trás há muito tempo.

É curioso como a personalidade de Wado se molda a qualquer estilo que ele se proponha a tocar, apenas comprovando o quanto todas estas decisões criativas são processos orgânicos dentro de sua obra. O músico nos apresenta seus estilos e referências favoritos como alguém que os conhece muito bem e sabe o que cada um tem de melhor. Moraes Moreira, Caetano, Gil, Timbalada, Margareth Menezes, Carlinhos Brown e Ivete não estão presentes neste álbum e sim a visão de Wado sobre cada um deles e o quanto influenciaram seu som – muito mais do que poderíamos imaginar há alguns anos.

O compositor nos mostra em mais um trabalho um entendimento e respeito pela música popular brasileira que está além de qualquer ironia. É uma interpretação de cunho político, espiritual e físico (por nos fazer dançar como poucos), que só enriquece uma nova geração de ouvintes a evoluirem musicalmente sem preconceitos e mais atentos às suas raízes.

(Ivete em uma música: Alabama)

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BOM PARA QUEM OUVE: Lucas Santanna, Gilberto Gil, Criolo
ARTISTA: Wado
MARCADORES: Axé, MPB, Ouça, Samba

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.