Resenhas

Walter Martin – Reminisce Bar & Grill

Novo álbum do ex-The Walkmen traz reflexões sobre a vida adulta com humor

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Ano: 2018
Selo: Family Jukebox
# Faixas: 11
Estilos: Folk Alternativo, Fol
Duração: 43:01
Nota: 4.5
Produção: Walter Martin

Cá estamos diante de um novo álbum do sensacional Walter Martin, o cara que fazia parte de uma boa banda no passado, The Walkmen, mas que se revelou muito mais interessante e legal como artista solo. Walter situou sua musicalidade entre as canções Folk otimistas e algo que poderia – como ele mesmo disse – ser chamado de canções infantis para adultos. Com esta opção ele tornou-se um cara diferente de seus pares, utilizando-se de uma verve poética muito rara. Agora pegue todas essas informações e enterre, porque este novo álbum, Reminisce Bar & Grill promete ser diferente. Ou, pelo menos, um pouco. Vamos ver isso.

Walter andou dizendo por aí que este novíssimo disco é uma espécie de tomada de consciência. Ele tem 43 anos de idade, uma esposa, dois filhos pequenos e, de um minuto para outro, se deu conta disso. Também notou que vive num mundo estranho, que o tempo está passando rápido, que esté envelhecendo na mesma velocidade e que, provavelmente, está morrendo. E que está perdido. E que não há muito a fazer. Diante disso, com as responsabilidades de adulto, em provável crise de meia idade, Walter expõe seu coração cerebral aos ouvintes, chamando-os à mesma reflexão. Sim, o tempo está passando, a vida está muito rápida, esquecemos das coisas mais importantes, experimentamos um tempo que nos diz para privilegiar o dinheiro, a competição, a esperteza e, lá no fundo, sabemos que não é nada disso que importa. Mas, por algum mecanismo distópico delivery, não temos como sair disso. Pelo menos por enquanto. E, de forma passageira e leve, Walter nos chama para repartir com ele essas e outras visões do mundo atual.

Seria fácil se apenas a parte lírica estivesse assegurada, mas Reminisce Bar & Grill é um baita disco também no aspecto musical. Com o talento do próprio Martin, que é multi-instrumentista, as canções decolam facilmente para singrar por um céu de brigadeiro estético, no qual pianos, guitarras, violões e percussões se casam harmoniosamente, provavelmente ungidas e oficializadas por um detalhe interessante: o uso extensivo e ostensivo de reverberações, que Martin disse ser um efeito mágico, futurista, ficcional, que enfeita as canções e seus arranjos. Sim, é exatamente isso. O que poderia ser um feixe de onze canções legais, porém banais, acaba soando como adoráveis espécimes de uma inusitada aventura no estúdio. Com ajuda de gente como Phil Ek, produtor de Fleet Foxes e Band Of Horses, que já havia trabalhado com Walter no último disco, My Kinda Music, do ano passado.

Mesmo que seja um disco mais profundo, com canções sérias – como Ride Down The Avenue – Walter Martin preserva seu talento tangente ao humor. Com as ótimas I Went Alone In A Solo Australian Tour (na qual ele faz confissões sobre seus shows na distante ilha-continente, não hesitando em falar sobre espetáculos vazios e fracassados) e I Dreamed I Was Lana Del Rey’s Older Brother, na qual se dirige à cantora americana sempre na terceira pessoa, como se estivesse dando vários conselhos a ela, Walter desponta com seu talento e senso de equilíbrio entre o possível e o improvável. Apesar disso, com toda a consideração por esta sua habilidade, é no discurso mais contemplativo que ele se sai bem, especialmente em Me And McAlevey, que tem um instrumental próximo do Dream Pop e Too Cold To Waterski, com ótimo trabalho de vocais de apoio e percussões.

Este é mais um daqueles discos dos quais pouco se falará e que estão destinados a ser perderem nos HD’s, listas de dicas de streaming e, talvez, prateleiras de discos. Não deixe isso acontecer, o que temos aqui é quase ouro musical. Uma beleza.

(Reminisce Bar & Grill em uma música: Me And McAlevey)

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BOM PARA QUEM OUVE: Jonathan Richman, Karen O, Andrew Bird
ARTISTA: Walter Martin

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.