Lembro uma vez há vários, vários anos quando me apontaram a maneira com que Joni Mitchell canta a palavra “Canada” em sua absolutamente bela Case of You. O fato de um substantivo próprio que você conhece ganhar tanta dramaticidade através da melodia e da entonação não é um feito qualquer. E aquele verso permanece hoje, décadas depois, como um dos momentos mais altos em sentimento de uma música embebida em emoção, capaz de emocionar por ainda muitas gerações.
Corta a cena, pula para esta década. Katie Crutchfield gravou em 2012 Chapel of Pines, que abre com “Mississippi/I’m alone in the alley/What am I supposed to be fighting for?”, uma estrofe que, com a voz de cabeça e a harmonia, consegue evocar o legado de Joni Mitchell e causar frios na barriga com uma só palavra (“Mississippi”) seguida desse par de frases entre a fragilidade e a força de deixar doer.
É o ponto alto de Great Thunder, EP que a artista lança sob o nome Waxahatchee com seis releituras de faixas que fez naquele ano. Em seus 17 minutos, temos um contato direto com o que ela oferece de melhor em seu trabalho: Composições emocionais belíssimas amparadas por uma interpretação vocal sob medida para essas músicas.
Elas recebem aqui um tratamento bem cru na gravação, com a cantora envolta por poucos – e muito suficientes – timbres, no que poderia ter sido arranjado facilmente dentro do Rock Alternativo, mas ouvimos aqui em moldes “Folk Lo-Fi”. Nas faixas, Katie trabalha figuras de linguagem vívidas e narra cenas bastante pessoais que o ouvinte ora se identifica, ora acompanha como quem ouve uma boa história.
Se Great Thunder chega como um “bônus” para quem acompanha Waxahatchee, ele funciona também como um grande argumento para seu talento. Ouça e perceba como o nome “Mississippi” pode te emocionar mais do que você achava.
(Great Thunder em uma música: Chapel of Pines)
