Quando Whitney surgiu com seu álbum de estreia Light Upon the Lake (2016), a banda conseguiu se destacar em um cenário musical relativamente saturado. A razão para o sucesso foi a forma como eles funcionavam como uma tradução muito pessoal e intransferível da sonoridade Americana, apesar de não trazer consigo nenhuma novidade marcante. “Golden Days”, uma das faixas do disco, era o resumo perfeito da atmosfera do Whitney. Seu título, por exemplo, não apenas alude a um suposto passado idealizado, mas também, e mais literalmente, tinge todo o espectro melancólico das canções do grupo.
Em Forever Turned Around, o segundo álbum de sua discografia, Whitney mantém-se fiel à sua natureza contemplativa em tons de sépia. O tempo verbal que predomina nas faixas do LP é o pretérito e suas melodias soam como momentos de afeto guardados em compotas açucaradas. Para alcançar esse resultado, a produção do disco se preocupa em sobrepor diversas camadas de instrumentos. É essa técnica que dá estofo e complexidade às harmonias que, no fundo, não são bastante acessíveis. Essa tonalidade amigável, com texturas de violão dedilhado, dá margem à uma experiência tátil. É quase possível sentir a aspereza da madeira e a fricção dos dedos em músicas que fazem de tudo para criar intimidade.
“Valley’s (My Love)” e “Used to be Lonely” têm videoclipes filmados ao pôr do sol e se somam às infinitas provas de que a nostalgia está no DNA de Whitney. É o substrato a partir do qual são feitas as suas composições. Nesse sentido, elas aludem a um exercício de meditação que consiste em ficar em silêncio e “sorrir por dentro”. Forever Turned Around, mesmo que melancólico, parece partir desse mesmo princípio: seu êxito está na capacidade de despertar memórias afetivas, nascidas na felicidade, mas que ganham novos contornos a cada vez que são contadas.
(Forever Turned Around em uma música: “Used To Be Lonely”)