Resenhas

Wild Nothing – Nocturne

Jack Tatum adquire maturidade em seu segundo disco, fazendo um dos mais belos álbuns de Dream Pop do ano

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Ano: 2012
Selo: Captured Tracks
# Faixas: 11
Estilos: Dream Pop, Indie Pop
Duração: 44:11
Nota: 4.0
Produção: Nicolas Vernhes

Em muitas das releituras dos anos 80 que vemos por aí, ou mesmo em artistas que buscam suas inspirações na mesma época, se encontra um grande problema: a música é mais focada na estética do que em qualquer outra coisa. E, geralmente, quando essa busca por aparentar algo acontece – neste caso, parecer retrô -, os resultados podem ser desinteressantes e acabam-se criando canções chatas, com letras ruins, um vocal geralmente apático e, sobretudo, uma obra datada. Gemini (2010), primeiro disco do Wild Nothing, sofre deste problema, sendo muito melódico e tem boas letras, mas não se destaca em nada de outras obras que foram lançadas na mesma época.

Já em Nocturne, as coisas estão bem diferentes. É verdade que Jack Tatum continua usando os mesmos elementos de seu trabalho anterior, mas aqui ele amadureceu suas ideias, melodias e sua música como um todo. É um disco mais refinado, polido e que costura muito bem ritmos, texturas, sintetizadores e guitarras em uma colcha de retalhos Pop incrivelmente sonhadora e graciosa.

O Dream Pop aqui presente ganha novos contornos e sonha mais longe. Com uma melhor produção e instrumentação, o álbum se apresenta muito coeso em melodias e estruturas, mas também há nele uma grande variação, misturando momentos mais doces, como em The Blue Dress, e mais agitados, como Only Heather. Até mesmo o vocal de Tatum progrediu, ganhando uma presença maior (agora limpo de efeitos e reverberações) e por vezes lembrando o de Billy Corgan, só que uma versão mais “fofinha” que a do líder do The Smashing Pumpkins.

Mas trata-se de um Dream Pop diferente, apostando não só na parte eletrônica para criar o clima sonhador de suas músicas, mas também em instrumentos de corda, o grande diferencial do disco. Shadow abre álbum misturando os elementos que veremos no decorrer das faixas – a guitarra cria uma bela melodia, assim como o violino que dá o charme à essa bela canção, enquanto o baixo preenche a sonoridade. Nocturne ganha também uma ótima aparição do violoncelo em algumas canções e a do violão acústico na incrível Through The Grass.

O clima anos 80 volta a aparecer com dois elementos que dominaram a época: sintetizador e drum machine, esse segundo ainda é resquício de seu último disco, em que usava este recurso em quase todas as músicas. Paradise tem muito de Synthpop, lembrando em certos momentos releituras do estilo como a do Craft Spells ou até mesmo os primórdios dele com o New Order. As batidas marcantes aparecem em faixas como Disappear Always e Counting Days, impondo um bom ritmo às músicas e criando um clima mais agitado no álbum.

A coesão sonora é incrível, mas, quando se olha isoladamente as temáticas abordadas no álbum, essa coesão é um pouco exagerada. Sendo que o único problema do disco é se repetir em temas, principalmente os amorosos. As letras são Pop, vão direto ao ponto e a grande maioria é muito boa, mas a insistência temática acaba criando um loop que pode ser meio cansativo para alguns.

Com um álbum mais maduro e uma sonoridade mais vasta, Jack Tatum soube explorar muito bem os elementos que escolheu para este trabalho, apostando tudo em melodias sonhadoras e não recorrendo aos lugares comuns do estilo. Nocturne é um disco fácil, Pop, acessível e, no fim das contas, um desfile de hits sonhadores.

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BOM PARA QUEM OUVE: Frankie Rose, Craft Spells, Beach House
ARTISTA: Wild Nothing
MARCADORES: Dream Pop, Indie Pop

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts