Já se passaram quarenta anos desde que o grupo britânico Wire cravou seu nome entre os expoentes do movimento Punk no final da década de setenta com seu clássico disco Pink Flag. Após uma longa, produtiva e invejavelmente rigorosa carreira, o grupo nos entrega Silver/Lead, o décimo sexto de sua biografia.
Olhar para a capa de Silver/Lead é entender o que temos aqui em termos musicais. Um arame que forma uma malha intrincada de tudo o que a banda têm sido ao longo das últimas décadas: pontiaguda, fria e consistente. No entanto, é justamente nessas categorias que assenta o paradoxo de se ouvir a banda atualmente. Escutar seu décimo sexto trabalho é reconhecer uma média sonora entre seus antecessores.
É claro que aquela alma explosiva que um dia classificou a banda como Punk (ou Pós-Punk graças às suas manobras experimentais) não existe mais, mas é possível reconhecer a mesma fórmula aplicada a uma nova realidade, que conta com músicos mais experientes. Diamonds In Cups, Brio e Sleep On The Wing não metem o pé na porta, mas avançam em ondulações melodiosas em um mar distópico. Não por acaso, o espírito que a banda apresenta assemelha-se muito àqueles incorporados por Gang Of Four em What Happens Next ou Moby em These Systems Are Failing, sem todavia cair na armadilha da revolta emburrada destes.
Silver/Lead é quase uma necessidade de se manter o senso crítico ativo dentro de uma mente serena, um álbum que não apenas mantém o bastião da música que Wire é ainda conservado, mas o mantém vivo e em atividade.
(Silver/Lead em uma música: Sleep on the Wing)