Resenhas

Wye Oak – Tween

Novo álbum de dupla americana traz canções não aproveitadas em trabalhos recentes

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Ano: 2016
Selo: Merge
# Faixas: 8
Estilos: Rock Alternativo, Folk Psicodélico, Eletrônica
Duração: 34:28
Nota: 3.5
Produção: Jenn Wasner, Andy Stack

Interessante este Tween: trata-se de um “mini-LP”, uma pequena compilação (oito faixas) com sobras de estúdio dos dois últimos álbuns da dupla americana Wye Oak, originária da cidade de Baltimore, no estado americano de Maryland. Enquanto a gente vê notícias sobre grandes tensões sociais por lá, a música deles, e a de bandas da mesma cidade, como Beach House e Future Islands, é outonal, fria, em tons sépia, geralmente com a impressão que estamos contemplando alguma paisagem chuvosa numa praia sob céu cinzento. É sonoridade que lembra bandas inglesas dos anos 1980, devidamente reempacotadas para este novo milênio, com graça e ar de novidade, uma vez que estas novas formações agregam uma abordagem com teclados e doses razoáveis de Eletrônica, daquelas que jogam a favor do arranjo e não surgem como instrumentos à parte.

O que chama a atenção em Tween é justamente o quanto dessa visão com teclados e música sintética se incorporou à paleta de cores da dupla. As canções que compõem o álbum são do período entre 2011 e 2014, espaço de tempo em que foram lançados Civilian e Shriek, trabalhos bem distintos no próprio cânon de Wye Oak. O primeiro é devedor direto do Folk Rock enguitarrado, seja da versão oitentista de R.E.M. ou da contemporaneidade de bandas como The War On Drugs. O segundo marca o momento em que tudo muda, quando a dupla passa a ciscar no mesmo terreno de suas companheiras de cidade. Ainda que tragam melancolia e olhar pela janela no fim de tarde, as canções são esquisitas, não seguem caminhos fáceis e evitam a mesmice ou repetição de fórmulas e tiques de produção.

Ainda que seja uma espécie de compilação de sobras de estúdio, Tween é redondinho e montado com uma idéia em mente. A abertura instrumental de Out Of Nowhere mostra uma confusão intencional de instrumentos e vozes sobrepostas, como se a banda estivesse iniciando um aquecimento antes de começar o álbum de fato. Quando If You Should See, a próxima canção, dá as caras, temos guitarras, teclados e uma bateria estranha funcionando como condutores do ritmo, abrindo caminho para a voz elegante e aguda de Jenn Wasner fazer bonito. No Dreaming vai pelo mesmo caminho, mas a alquimia entre as sonoridades acústicas “convencionais” e a sutileza da abordagem eletrônica gera momentos de beleza, especialmente na introdução com dedilhado de guitarras que vai sendo encampada por teclados e sons que parecem fruto de um borrão de tinta numa tela de algum pintor cheio de planos fora do comum.

Too Right também tem guitarras com timbres atemporais que vão sendo engolidas pela barulheira, desta vez de outras guitarras mais pesadas e uma avalanche de teclas e a voz de Jenn, amarrando um belo muffin psicodélico e inesperado. Better (For Esther) parece mais convencional mas esconde pequenos segredos sonoros e multi-camadas de instrumentos, configurando uma boa escolha para audição com fones em busca desse esconde-esconde. On Luxury já é mais climática, com percussão incomum a princípio e uma levada de bateria sintética quebrada e angulosa. Trigger Finger tem uma lenta e cinematográfica introdução de guitarras e vozes multiplicadas e dobrando-se umas sobre as outras, com belo resultado mais a frente, com grande potencial climático mais para o fim, chegando a parecer algo que Arcade Fire poderia gravar lá pelo início da carreira. O fecho com Watching The Waiting tem a voz de Jenn parecendo bastante com a de Florence Welsh e um instrumental que lembra algo de Cocteau Twins, se esta fosse uma banda formada, no máximo, em 2010.

Tween serve para pensarmos nessas abordagens sonoras da atualidade e ver como elas se encaixam no que as pessoas chamam de Rock em 2016. Tem espaço para possibilidades que vão muito além do básico e isto não significa inchaço ou imprecisão nos arranjos, pelo contrário. A música de Wye Oak apresenta nuances interessantes e um gosto pelo inesperado. Boa pedida.

(Tween em uma faixa: No Dreaming)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.