Resenhas

Yasmin Williams – Acadia

Aconchegante e dinâmico, terceiro disco da violonista manuseia a linguagem da música instrumental no universo do folk

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Ano: 2024
Selo: Nonesuch Records
# Faixas: 9
Estilos: Folk, Post-Rock
Duração: 46'
Produção: Yasmin Williams

Não é fácil traduzir “wholesome”, um termo que a estadunidense Yasmin Williams conhece tão bem. O adjetivo expressa a característica de algo puro, ou do bem, que gera uma sensação de conforto e segurança a quem experimenta uma obra. Acadia, o terceiro álbum da violonista, compositora e produtora, para além de sua excelência musical, tem essa qualidade como um de seus traços mais fortes de personalidade.

Isso porque a artista construiu a obra em um dinamismo entre acordes que privilegia as harmonias consonantes. A cada faixa, o violão parece sorrir ao ouvinte e encantá-lo com o carisma do seu dedilhar. Os primeiros segundos de cada música servem para, tecnicamente, introduzir sua linha melódica, mas também funcionam como um novo abrir de sorrisos diante daquela nova construção.

Esse efeito diz respeito também a toda ambientação de Acadia, que traz a música instrumental para o universo de canções do folk. É uma estética orgânica que abraça calorosamente até mesmo quem não possui alguma familiaridade com esse estilo (e será que há alguém que não teria?). O disco serve como lembrete de como o violão pode ser irresistível pelo próprio conforto que encontramos em seu timbre, ainda mais quando manuseado com tamanha proficiência.

Mas Arcadia está longe de ser uma obra “de violão”. Pelo contrário, Yasmin recebe diversos convidados ao longo do álbum e é creditada sozinha em apenas uma faixa (“Sisters”). Seus convidados trazem diversas outras camadas sonoras e temperos estéticos a suas composições – há até uma seção cantada em “Virga”. Em determinados momentos, há um espírito jazz – mais comum a obras instrumentais – que dá as caras, sem nunca reivindicar para si a atenção da ambientação proposta.

À medida que a narrativa do disco progride, guitarras aparecem e trazer um tom post-rock que nos acompanha na liberdade criativa das últimas três faixas – e a apoteose, com “Malamu”, é o momento em que todas as qualidades percebidas ao longo do álbum estão juntas para uma grande despedida. O violão permite que outros instrumentos tomem o primeiro plano e brinca de liderar uma banda. Será que seu sonho sempre foi ser guitarra?

São muitas as imagens que vêm à mente durante a audição de Acadia, e grande o deslumbre com sua excelência técnica. Também são vários os elogios que uma análise da obra pode gerar. O que fica, porém, é o aspecto sentimental de um lugar musical seguro, de um aconchego amigável que surge dessas músicas. É wholesome. Além de mais um lembrete do quanto a música instrumental pode traduzir aquilo que não se tem palavras para descrever, independente do idioma.

(Acadia em uma faixa: “Hummingbird”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.