Resenhas

Young Fathers – White Men Are Black Men Too

Novo disco do trio é menos colérico e traz sua essência de música negra em belas melodias

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Ano: 2015
Selo: Big Dada
# Faixas: 12
Estilos: Hip Hop, R&B, Soul, Rap
Duração: 38:00
Nota: 3.5
Produção: Young Fathers

O primeiro disco lançado por Young Fathers, DEAD, acabou se tornando o epicentro de todo um hype que nasceu a partir de seus excelentes EPs lançados anteriormente, TAPE ONE e Tape Two. O resultado foi certeiro, um trabalho nervoso e coeso com os conflitos étnicos que cercam o continente europeu diante de uma crescente xenofobia. Agressivo, parecia ser a solução momentânea para problemas enraizados na sociedade e também a resposta ao que poderíamos chamar de Hip Hop Alternativo no Velho Continente.

DEAD acabaria ganhando o Mercury Prize, famoso e valorizado prêmio britânico que laureia bandas do Reino Unido. Normalmente, ele é dado para alguém da Inglaterra, por isso a surpresa quando os escoceses de origens étnicas distintas subiram ao palco para receber a honraria. Em White Men Are Black Too, toda aquela cólera e som pesado parece ter se dissipado em faixas que trazem em evidência a melodia e o lado mais Pop do trio, esquecendo um pouco o Hip Hop e até os ritmos do Oriente Médio e da África sentidos em suas obras anteriores.

Apesar de ser um álbum muito mais calmo e sereno, ele não esquece a essência que parece determinar a vontade do trio em criar música: tornar pessoas de etnias distintas iguais. Por isso o título sugestivo e igualitário, e por isso a sonoridade essencialmente negra sendo abraçada por outros gêneros. O Neo Soul e o R&B são a pauta de várias faixas (e quase do disco como um todo) como Still Running, Shame ou 27, todas muito mais melódicas e baladeiras. Em alguns momentos, os rudimentos percussivos de 27 nos fazem relembrar o transe de suas obras anteriores e a sensação ritualística que Young Fathers sempre passou.

No entanto, esse não é o tema central da obra. Rain or Shine é encaixada, traz Hip Hop e cria uma versão contemporânea dos famosos artistas de Soul da década de 1970, como Marvin Gaye. Se isso pode soar um pouco lugar comum em tempos de dominação global de Pharrel Willians, o trio parece ter uma sonoridade própria inspirada nas mesmas coisas que os demais. Por isso o clichê em faixas como Nest, Get Started ou Liberated acaba saindo de nossas próprias concepções e ganha identidade em Young Fathers, um grupo que cria o alternativo de outra forma.

Se White Men Are Black Too não consegue causar o mesmo impacto inicial de DEAD, por não ser tão chocante como seu premiado disco, a nova obra atrai novos públicos e cria faixas com um dos melhores elementos do trio: o seu forte gosto por baladas e bonitas linhas de vozes. Dessa forma, se torna o complemento ideal para uma audição sequencial – primeiro o estouro, para depois a calmaria.

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ARTISTA: Young Fathers
MARCADORES: Hip Hop, R&B, Rap, Soul

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.