Resenhas

Zooey – The Drifters

Dupla francesa faz belo disco de Pop Eletrônico à beira-mar

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Ano: 2017
Selo: Wonderfulsound
# Faixas: 11
Estilos: Pop Alternativo, Dream Pop Eletrônico
Duração: 32:58
Nota: 4.0
Produção: Matthieu Beck e Marie Merlet

Impossível não pensar em ondinhas beijando gentilmente a areia da praia ao ouvir este primeiro disco da dupla francesa Zooey. The Drifters oferece ao ouvinte um litorâneo passeio sonoro, cheio de delicadeza, timbres elegantes, carinho auricular por toda parte e uma disposição implícita de emular alguns tiques e taques daquela sonoridade pós-Bossa Nova, de meados dos anos 1960, quando o estilo já havia passado do ápice, tornando-se uma lembrança carinhosa de um passado recente. Talvez seja a generosa influência da presença perene de mestres como Brian Wilson (o próprio garoto da praia) e Burt Bacharach, dois colossos que ajudaram a levar a música popular para a prateleira da grande arte. Talvez seja tudo isso.

Formado pelo casal Matthieu Beck e Marie Merlet, o duo tem musicalidade própria e está longe de ser revisionista. Ao contrário, Zooey tem a manha da recriação, da apropriação, trazendo para seu horizonte os ensinamentos e reprocessando tudo e o resultado é música com cara de 2017, mas com aquela pontadinha no lado esquerdo do peito que parece inédita. O casal é radicado em Londres, gravou todos os sons presentes no álbum num estúdio caseiro mas, ao contrário do cinza chuvoso da capital inglesa, o som tem sol na cabeça e no coração, sugerindo apreciação a céu aberto e azul.

Para mostrar a capacidade de fluência neste idioma musical-geográfico, a dupla parece lenta na medida certa, mas não perde tempo, oferecendo onze canções em 33 minutos de duração. Há instrumentais belos e contemplativos, caso da belíssima Joya, uma pequena aula de delicadeza e calma à beira mar, ao lado da pessoa amada. Sua irmã-gêmea, Jóia, tem um andamento mais rápido, flerte comportadinho com Eletrônica de baixo custo e uma lindeza igualmente litorânea. Outra boa canção instrumental é a pianística When The Morning Comes, ornamentada apenas com os vocais de Marie e a frase-título, repetida docemente por Beck.

A abertura com Realise Realise já mostra o outro lado da dupla, o de respeito às boas melodias Pop. Com potencial para cantar junto, a canção flui macia e aveludada, caso também de Time To Get Alone e a doce Oh, Stop!, adorável. A caminho do fim do álbum está uma vinheta instrumental, La Realité e a melhor canção do disco, a assombrosa Marcher La Nuit, com uma melodia que lembra en passant Holes, de Mercury Rev safra 1998. Como o nome já diz, é uma música noturna, de caminhar solitário pela areia, com pés tocando a areia molhada e corpo sentido gotículas de oceano, que vêm como orvalho, sem ser.

The Drifters é um belo disco, agridoce, gentil, que te recebe de braços abertos e aprensenta a casa. Tem tudo o que um ouvinte exigente pode desejar: estilo, melodia, referência, personalidade, boas canções, ou seja, o pacote completo. Venha.

(The Drifters em uma música: Marcher La Nuit)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.