Beach House – Cine Joia, SP

Banda faz show hipnotizante focado em seus dois últimos discos e ajuda a quebrar a rotina em noite diferente em São Paulo

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Fotos: Fabrício Vianna/Cine Joia
Nota: 4.0

Tive um sentimento bom ontem durante o show do duo Beach House no Cine Joia, em São Paulo. Talvez pelo frio, talvez pelo êxtase coletivo durante a apresentação. Foi legal ver um público calmo, concentrado, hipnotizado e reunido para assistir a um show de Dream Pop – gênero que naturalmente faz shows mais sensoriais, contemplativos e que devem ser aproveitados de uma maneira diferente do comum, já que o estilo de música e a própria formação da banda os impedem de pular e interagir de uma maneira convencional com o público. Dentro do que puderam, Victoria Legrand, Alex Scally e seu baterista mostraram a que vieram.

Antes da apresentação, cheguei a comentar com o pessoal do Monkeybuzz, que estava preocupado com a qualidade do som da banda no Cine Joia, que obviamente necessita de um cuidado especial e diferente do que as casas estão acostumadas por aqui, principalmente naquela que não conquistou a melhor das famas nesse quesito, desde sua inauguração. Infelizmente, tive que mudar de posição umas três vezes, até fechar os olhos, aguentar os xingamentos e atravessar no meio da “multidão” para conseguir uma posição central e próxima ao palco para ter a experiência que me agradava.

Mesmo assim, é impossível dizer que a acústica ruim do Cine Joia tenha atrapalhado o show. A banda entrou e já mandou Wild e Walk In The Park, duas das preferidas do público, mostrando mais um fator que me impressionou e provou que aquele era um show diferente, já que além dessas, a banda tocou boa parte das mais conhecidas ente o início e a metade da apresentação, sem se importar em guardar os grandes hits – que na verdade, praticamente não existem – para o final.

Beach House é uma banda que nos impede de avaliá-la apenas pela música. O figurino sempre elegante de Victoria que eu já havia citado em minha resenha do Pitchfork Festival no ano passado, o jogo de luzes, um cenário montado com cenas projetadas em uma “parede de cordas” e a própria projeção que estamos acostumados no Cine Joia, formaram um dos palcos mais bonitos que vi em muito tempo num show daquele porte e parte integrante da experiência completa a que fomos submetidos.

Gostem ou não, o projeto do Popload Gig tem trazido alguns dos nomes mais interessantes da música nos últimos anos. Me agrada a preocupação da curadoria de trazer nomes novos, hypados, obviamente, para conseguirem atrair um bom público e lucrar, mas nomes hypados com justiça, boas bandas internacionais com discos que lá fora, são considerados pequenos clássicos recentes, mas que nem sempre temos a oportunidade de assistir em shows solo por aqui. Os preços realmente em alguns casos, chegam a ser inacreditáveis e esse do Beach House também não foi dos mais acessíveis, mas ao compararmos com outras apresentações como a de Clarice Falcão também no Cine Joia pelo mesmo preço e com a de The XX pelo dobro ou quadruplo do valor dependendo do ingresso, até que este não foi um dos piores casos. Aliás, este é um dos temas que discutiremos em nosso novo programa da MonkeyTV, Buzzers, que estreia nesta sexta-feira.

No final, o duo fez uma apresentação de uma hora e meia, focando seu setlist nos dois discos mais recentes, como havíamos previsto no aquecimento e boa parte das que estávamos torcendo para que fossem lembradas também estavam presentes como Irene, The Hours e Heart Of Chambers. Tudo isso resultou numa experiência deliciosa, diferente do agito com momentos para cantar junto que estamos acostumados e em uma quarta-feira, ajudando a quebrar um pouco a rotina da semana. Espero de coração que mais bandas do nível de Beach House, Dirty Projectors, Grizzly Bear e outras, tenham cada vez mais espaço na noite brasileira.

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ARTISTA: Beach House
MARCADORES: Cine Joia

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.