Cat Stevens/Yusuf Islam – Citibank Hall, RJ

Aos 65 anos, lendário compositor faz show que mostra que suas músicas continuam com força e atuais

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Nota: 4.5

Difícil saber se o homem que subiu ao palco do Citibank Hall era Cat Stevens, Yusuf Islam ou Steven Demetre Georgiou. Fácil notar que aquela figura esguia, de aparência serena, dominaria o ambiente em questão de instantes, tamanha a energia que varava o ar. O homem avançou solitário pela escuridão reinante, deixando-se ver aos poucos, para sentar num banco no centro do palco. Sem mais palavras, empunhou seu violão e cantou Moonshadow, singela canção de seu grande disco Teaser And Firecat, de 1971.

A partir daí, ou seja, ainda por todo o percurso do show, Cat/Yusuf/Steven estabeleceria um clima de coletividade, no qual, mesmo que estivesse no palco, era perceptível a função decisiva da plateia em acompanhá-lo e participar da apresentação. Sua banda é precisa, elegante e harmoniosa, com destaque para Alun Davies, seu parceiro desde o início dos anos 70. Ao mesmo tempo em que visita clássicos do passado, Yusuf mostra grande afeição por Roadsinger, seu mais recente trabalho, de 2009, que empresta sua canção título, Thinkin’Bout You e Everytime I Dream, esta com a grande sacada de incluir grande parte de All You Need Is Love, dos Beatles, que foi cantada e celebrada a plenos pulmões pelos presentes. Ainda que seus dois discos pop gravados recentemente, An Other Cup (2006) e Roadsinger (2009) sejam bastante interessantes, o público está presente para revisitar canções do passado. Afinal de contas, é a primeira vez que Yusuf vem à América do Sul para se apresentar, ele que já residiu no Rio entre 1975/78.

Clássicos como The Wind e Sad Lisa desfilam ao lado de belíssimas canções que, se não atingiram o mesmo status, guardam fãs fiéis, como é o caso de Ruins (última faixa de Catch Bull At Four, de 1972) e Foreigner Suite (do incompreendido disco Foreigner, de 1973), além de uma simpática nova canção, O Jogo Bonito, sobre o futebol, dispensável em meio ao potencial de músicas memoráveis na carreira do sujeito. O público participa gritando os nomes das músicas que deseja ouvir e Yusuf responde do palco, aproveitando a deixa para comentar o próximo número. Faz isso com simpatia e simplicidade cativantes e ri do insistente pedido por Morning Has Broken, canção que ele executa como primeiro número do bis. A casa quase vem abaixo com Wild World e a emocionante e atemporal Father And Son, talvez a mais perfeita tradução sobre conflito de gerações já feita em forma de música pop.

Aos 65 anos, Cat/Yusuf/Steven é um homem que emana sabedoria e tranquilidade. Sua conversão ao islamismo, que o afastou dos palcos e dos discos em 1978, parece ter trazido paz. O tempo lhe fez bem, transformando-o num filantropo, marido, pai e avô e tudo isso, de alguma forma, se encaixa nessas canções que ele fez antes dos 30 anos, que parecem antecipar sem qualquer intenção, sua maturidade e contemplação da vida. Um dos grandes e discretíssimos shows, daquela categoria que ultrapassa o âmbito musical.

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ARTISTA: Cat Stevens
MARCADORES: Show

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.