Daniel Johnston – Beco 203, SP

Visivelmente debilitado, compositor emociona fãs em São Paulo e repassa os grandes clássicos de sua carreira em uma hora de apresentação

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Nota: 4.0

Depois do cancelamento do que seria a primeira passagem de Daniel Johnston pela América do Sul em março por motivos de saúde, o clima para esta nova data era de muita desconfiança. Desde a notícia de que o cantor – compositor, cartunista, ídolo de Kurt Cobain, dentre outros rótulos – teve uma crise de seu distúrbio bipolar esquizofrênico e não conseguiu embarcar para sua mini turnê, passando por Chile, Argentina e terminando em São Paulo, os fãs ficaram com um pé atrás de qualquer outra nova data, como prometido pela organização.

Algumas semanas se passaram e a nova data foi anunciada, sem muito alarde ou extrema expectativa como havia para a primeira data, enfim, o show de São Paulo estava remarcado para o dia 26 de abril, sexta-feira passada, no Beco 203, depois de passar primeiro pelos dois outros países da mini turnê como haviam anunciado.

Às 19h30, quando a casa abriu, a sensação era estranha e a expectativa do que seria desta noite aumentava. Não havia fila alguma após meia hora passada, poucos eram os que aguardavam pelo show ou se empolgavam com a discotecagem e cerca de dez pessoas se entreolhavam com um ar de desconfiança. O show marcado para as 21h30 estava fadado à solidão. Mas, se tratando de Daniel Johnston, tudo pode acontecer. Os minutos foram passando e algumas pessoas entravam no local sem entender o vazio, mas ele foi sendo preenchido. Meia hora antes do início, os ânimos esquentaram e a casa já estava tomada por fãs e entusiastas, prontos pra receber o queridinho do Indie mundial.

Alguns minutos atrasado, Daniel sobe ao palco e se demonstra à vontade, de frente para o público, e tenta descontrair o clima de expectativa de todos e pergunta “Que país é este mesmo?”, pede a guitarra emprestada para dar início ao show e dá fim à desconfiança. Ali estava o ícone, o mistério e as histórias, tudo junto no olhar inocente do cantor. Empunhado da guitarra e de seu caderno de letras, Daniel abre a noite com Mask. A execução passou longe de ser das melhores, afinal a doença afeta sua coordenação e complica ainda mais para ele, que nunca foi um músico excepcional no aspecto técnico. No entanto, via-se no olhar do público correspondido por Daniel, o carinho que ali estava sendo passado, o sacrifício que era executar aquelas canções que um dia foram tão simples. Em seguida, ainda com a guitarra, ele tocou There Is a Sense of Humor Way Beyond Friendship.

Depois desse aquecimento, Daniel deixa o palco, que é tomado pela banda que o acompanhou nessa apresentação, formada por músicos brasileiros da cena Indie. Com tudo pronto, Johnston volta ao palco, abre seu caderno de letras recheado de clássicos e começa com Go para delírio do público presente, seguida por Casper the Friendly Ghost e outras composições que marcaram sua carreira e influenciaram inúmeros ídolos atuais. Com sua simplicidade musical e sinceridade lírica, mexia com o sentimento de quem estava presente a cada música que se seguia, passando por um ápice Rock’n’Roll em Speeding Motorcycle, mas também por momentos carregados de emoção, como em Hey Joe.

A cada letra, Daniel mostrava o sentimento apenas com seu olhar. Por volta de 50 minutos de show, ele anuncia sua última música e, para delírio de todos os presentes, canta seu maior clássico True Love Will You In the End e deixa o palco ovacionado. A plateia clama pela volta de Johston, ele sobe de volta e a capela canta, com o coro do público, Devil Town, fechando com chave de ouro, e provando que apesar de não estar fisicamente bem, ainda é um ídolo e, provando que mesmo lutando contra seus distúrbios, continua tocando corações como sempre fez.

(Fotos: Renan Bossi)

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MARCADORES: Beco 203 SP

Autor:

Vegetariano, rabugento, ouvindo e fazendo música