Jair Naves – Auditório do Ibirapuera, SP

Lançamento de “Trovões a Me Atingir” permitiu acesso às diversas faces da poesia do músico

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Fotos: Lucas Mello
Nota: 4.5

A sensação de uma grande noite estava presente antes mesmo dos primeiros acordes de Resvala, música que abre ambos os novos show e disco de Jair Naves, Trovões a Me Atingir. Isso vinha do clima de festa que um evento desses (lançamento de álbum) tem, com muitos conhecidos reunidos, mas também da ansiedade em ver ao vivo músicas que já ouvimos diversas vezes nas últimas semanas. Ao abrir das cortinas, o sorriso de Jair era o mesmo do público.

Logo de primeira, deu pra entender ainda melhor como o disco foi construído em grupo. São muitos os convidados (entre percussão, sopro, violoncelo e vozes) que entram e saem do palco para a reprodução das músicas serem bem fiéis ao que ouvimos em Trovões. Porém, os louros ficam ali na energia de Jair com sua banda, os arquitetos destas nove faixas. A linguagem corporal do vocalista e os comentários feitos entre cada uma delas esclarecem: O show não é só dele.

Muito bem acompanhada de gente como Bárbara Eugênia, Beto Mejía e Hélio Flanders, entre vários outros, a noite seguiu naquele tal clima de festa até os limites que as composições introspectivas – ou melhor, implosivas – de Naves permitiam. Músicas como Incêndios (O Clarão de Bombas a Explodir) e No Meu Encalço, acompanhadas de Pronto Pra Morrer e uma ou outra velha conhecida, prendem o ouvinte nas poltronas do teatro com uma força grave como a voz do cantor. Ao mesmo tempo, B. e Prece Atendida adquiriram, cada uma a seu modo, aspectos sublimes.

No Fim da Ladeira, Entre Vielas Tortuosas ganhou um belo e novo arranjo, enquanto a presença da mãe de Jair na plateia rendeu uma interpretação ainda mais especial de Maria Lúcia, Santa Cecília e Eu. Foram diversas emoções uma atrás da outra, o que reforça a identidade também dos discos e músicas do artista. E ficou, acima de tudo, essa sensação: A de adentrarmos mais uma vez em seu universo sentimental e particular, com toda a complexidade que isso envolve. Um verdadeiro privilégio – daquele sorriso ao abrir das cortinas aos autógrafos e abraços no saguão do Auditório.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.