Onagra Claudique – Sesc Pompeia, SP

Dupla paulista faz sua estreia nos palcos na programação do Prata da Casa

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Fotos: Fernando Galassi/Monkeybuzz
Nota: 3.5

Todo nascimento é raro, único – do ponto de vista de como incorpora sensações bastante específicas – e mágico, pela forma como parece atrair os olhares de cada indivíduo próximo desse acontecimento de razões tão grandiosas. E o que dizer de uma banda independente que acaba de iniciar (de fato) sua carreira? Embora dotada de contornos modestos e delineamentos ainda inexatos perto de um ato tão marcante, a estreia nos palcos da banda paulistana Onagra Claudique parece aderir às mesmas definições que acompanham o princípio de qualquer ser, matéria ou mínima fração de sentimento – seja ele qual for. Donos de um material ainda escasso (natural para uma banda iniciante), o grupo provou na noite de ontem (09) no SESC Pompeia que, mesmo iniciante, já revela uma gama de acertos tão grandes, quanto de uma veterana.

Aos comandos contrastados da dupla Roger Valença e Diego Scalada, a banda provou ser capaz de assumir um rumo distinto do que por vezes empobrece e torna redundante o cenário Folk nacional. Com os ouvidos atentos ao que flutua em solo norte-americano – imagine um encontro amigável entre Bon Iver e My Morning Jacket -, a dupla e a soma de colaboradores que a auxiliou no palco conseguiram ultrapassar a camada dos amigos e velhos fãs presentes no show para atender a toda uma nova variedade de ouvintes. Ainda próximos de erros tão básicos (e irritantes), como o descompasse entre os vocais e a instrumentação, o duo conseguiu em cada nova e já conhecida criação entregar as bases para o que deve se materializar em uma carreira sólida e permeada por letras de pura confissão.

Com um acabamento dicotômico, a banda parece ser guiada por dois fluxos bem distintos, cada um apontando para uma das metades que guiam os caminhos instrumentais e líricos do ainda principiante projeto. Enquanto Valença brinca com a melancolia de maneira a arrancar suspiros dolorosos dos ouvintes – incorporando uma versão particular de Justin Vernon, Robin Pecknold e ares de um João Gilberto menos tímido -, Scalada pontua com certa dose de humor e ironia o restante das sempre ricas composições. A medida parece estabelecer o rumo exato ao trabalho, que nunca soa exageradamente sombrio e nem erroneamente ensolarado. Um constante meio termo, uma medida agridoce que se estabelece de forma convidativa em cada canção. Em alguns instantes é até possível visualizar uma versão acústica de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante no doloroso disco 4.

Ainda que ecoe uma infinidade de referências nostálgicas ao vivo (e em estúdio), resultado assumido nas versões de Belle and Sebastian e Simon and Garfunkel, há na construção de cada música da Onagra Claudique uma finalização de acabamentos próprios incontestáveis. Parceiros há bastante tempo – quando ainda assumiam afinações curiosas com a música Punk –, Valença e Scalada mostram no sorriso entusiasmado e nos gestos tímidos que se espalham pelo palco um projeto iniciante que, mesmo em busca de um propósito maior, já merece toda forma de atenção. Inteligente como é, a dupla não poderia ter escolhido um título mais adequado ao primeiro EP – lançado há alguns meses -, afinal, esta é sem sombra de dúvidas A Hora e Vez de Onagra Claudique.

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MARCADORES: SESC Pompeia

Autor:

Cleber Facchi é o responsável pelo blog Miojo Indie, passa tempo demais na internet e ainda acredita no amor.