Pitchfork Festival Paris 2013 – Dia 2: Disclosure, Jagwar Ma, Junip e mais

Veja quais foram nossas impressões deste segundo dia da cobertura Monkeybuzz da edição francesa do festival

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Nota: 5.0

Leia também nossa cobertura do Dia 1 com The Knife, Darkside, Savages e mais.

Colin Stetson

Muitos podem questionar certo “pedantismo” em algumas atrações convidadas pelo Pitchfork para protagonizar seus festivais, principalmente sua edição europeia, claramente mais ousada que a de Chicago. Mas ao perceber a qualidade de um trabalho como o de Colin Stetson, com apenas dois saxofones no palco, qualquer pensamento desse tipo desaparece.

É impressionante, quase inacreditável o que Stetson consegue fazer com o saxofone. Acompanhado de quase nenhuma melodia gravada, que servia apenas para uma leve ambientação de cada faixa, o saxofonista que já trabalhou com LCD Soundsystem, Arcade Fire, Bon Iver, David Byrne, Feist, entre outros, conseguia criar uma trilha sonora completa apenas com um instrumento. Uma verdadeira viagem melódica, que ao contrário de muitos trabalhos instrumentais, não funcionam como som ambiente e protagonizam o momento mais do que muitas canções, causando empolgação, desconforto, ansiedade e qualquer outro sentimento que às vezes esquecemos que a música é capaz de proporcionar.

É óbvio que chega a ser impossível comparar a adequação de um show desse com o do Disclosure, por exemplo, que viria depois, são propostas diferentes e a de Stetson não é para qualquer um. O show estava com um bom público, muito provavelmente fãs das outras bandas que conhecem brevemente o trabalho do saxofonista e por isso nunca iriam a uma de suas apresentações solo, mas o festival tornou-se o momento certo para isso.

4,5 bananas

Junip

Quando parte de nosso trabalho passa a ser ir à muitos shows e analisá-los criticamente, é natural que não nos emocionemos e nos empolguemos com a mesma frequência com qualquer apresentação. Não me entenda mal, continua sendo uma experiência incrível e desculpe lhe dizer isso, casa seu trabalho seja chato, mas deve estar entre os melhores empregos do mundo para um fã de música, talvez ao lado de trabalhar em uma loja de discos, mas mesmo assim, após ver de tudo, o arrepio passa a acontecer mais raramente e é aí que ele se torna um potente critério de avaliação.

Junip ao vivo foi assim, para quem conhece a trajetória da banda e de José González, é fácil imaginar como são as apresentações, com toda sua simplicidade aparente, mas cheia de sentimento por trás. Faixa após faixa, a banda que interagia pouco, movia-se pouco, tirava arrepios constantes de todos os presentes, hipnotizados com a apresentação que trazia as faixas que conhecemos, potencializadas para o ambiente, tornando-se música para ouvir com o corpo todo, não apenas com os ouvidos.

Entre os destaques, é impossível não citar In Every Direction, Always e Rope & Summit, não apenas as mais bonitas, mas as que mais ganharam a companhia de centenas de vozes da plateia, potencializando também os arrepios coletivos.

5 bananas

Jagwar Ma

Antes de comentar a apresentação, gostaria de destacar minha surpresa com a posição de destaque que os novatos do Jagwar Ma chegaram para se apresentar nessa sexta-feira em Paris. Com apenas um álbum lançado, o show foi o segundo mais cheio do dia, perdendo apenas para os britânicos do Disclosure.

Além da lotação máxima, a qualidade dos fãs era alta, sabendo cantar todas as músicas e divulgando a banda para os que conheciam menos como a maior estreia de 2013. Eu, particularmente, ouvi muito Howlin nesse ano, que tem lugar garantido entre meus discos preferidos do período, mas confesso que por aqui o álbum ganhou menos atenção do que realmente merecia.

Ao vivo, os garotos não param, são verdadeiros entertainers, com o perdão do estrangeirismo por ausência de palavra na língua portuguesa que melhor descreva. Um baixo, uma guitarra e um integrante para comandar as batidas eletrônicas e os samples e em pouco tempo transformaram o palco em uma grande festa.

As versões ao vivo das músicas são tocadas quase que no improviso, mas sem chegar a desconstruir uma música como é comum em artistas do eletrônico por exemplo, apenas acrescentando pirações psicodélicas, solos surpreendentes e prolongamentos das batidas que deixavam a cara das músicas muito mais adequada às pistas do que ao ouvirmos suas versões de estúdio.

Os garotos conseguiram mostrar como fazer um bom disco de hits de um Pop nada óbvio, capaz de animar e segurar um público do começo ao fim em um dos melhores shows do festival, de uma banda que todos devem passar a prestar mais atenção.

5 bananas

Disclosure

Não há dúvidas de que o duo britânico chegou à França como a maior atração do festival. Um ano antes, ambos participaram do mesmo evento, em um horário com bem menos destaque e chegaram como apostas, desta vez, Disclosure chegou como protagonista e impressionou todos com o quanto já estão acostumados e confortáveis com esta posição.

O show do duo foi talvez a única super-produção de todo o festival, com uma série de telões que ampliavam o efeito das iluminações milimetricamente pensadas para cada canção. Entre as mais impressionantes estavam o fogo em When A Fire Starts to Burn e a conhecida Disclosure Face substituindo Sam Smith no hit Latch, cantando de forma perfeitamente sincronizada no telão.

Todos os maiores hits estiveram presentes, de forma prolongada e que se não fosse uma pequena pausa entre algumas músicas, poderíamos tratá-las como uma grande apresentação de uma canção só, como costuma fazer o duo Justice por exemplo.

Assim como dito anteriormente na resenha do Junip, o show foi de arrepiar do começo ao fim, os garotos conseguiram construir um verdadeiro espetáculo de luzes e de som, transformando a pista, ou o palco – já não consigo diferenciar – em uma verdadeira balada dos sonhos, em que não queremos sair jamais e que ficaria ainda melhor na companhia de quem nos faz bem.

Em resumo, o duo fez um dos melhores shows que vi nos últimos anos, entre os de música eletrônica, muito provavelmente o melhor musicalmente, talvez perdendo apenas em animação para as pirações de Steve Aoki ou Major Lazer, mas estas loucuras se provam desnecessárias ao longo do que os garotos conseguem se revezando entre baterias eletrônicas, guitarras, vocais e todo seu equipamento, produzindo um som que impressionaria por si só, mas torna-se quase inacreditável quando lembramos da idade dos garotos e de que estão apenas em seu primeiro álbum.

Disclosure deve vir ao Brasil em breve e você não deve perder esse show de forma alguma, independente do quanto gostou ou não do disco. Leve seus amigos, namorada e curta ao máximo. Garanto que o ambiente e o clima para isso ficará por conta da dupla.

5 Bananas

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.