Planeta Terra Festival 2013: Blur

Esperado retorno de um dos pais do Britpop foi excelente e demonstrou que o show deles consegue ser ainda mais interessante que o seus discos

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Fotos: Ricardo Matsukawa / Terra
Nota: 4.5

A importância do Blur para música é inegável. O Britpop dos anos 1990, conhecido pelas batalhas entre o grupo londrino e os seus “irmãos”,Gallaghers, de Manchester sempre trouxeram a rivalidade entre dois grupos que apesar de pertencerem ao mesmo estilo eram tão diferentes entre si.Tal distinção talvez justifique tamanha disputa por espaço, sendo a talvez mais conhecida em 1995 com o lançamento simultâneo de singles por ambas as bandas, com Damon Alburn saindo vitorioso com a ótima Country House.

Ver um show do grupo em terras brasileiras foi uma verdadeira viagem à infância. Os londrinos sempre foram conhecidos pelo estrondoso sucesso do hit Song 2 que se compreendido ao longo da discografia do grupo se mostrará um tanto fora de contexto. Sempre procurando se reinventar, o multi projetista Alburn, que posteriormente viria a encabeçar o Gorillaz e The Good, Bad and the Queen, por exemplo, esteve a frente de diferentes mudanças na sonoridade do quarteto algo que pode ser muito bem percebido no encerramento do Planeta Terra 2013.

Claramente era o show mais esperado pelos fãs de um festival que sempre procurou homenagear a década de 1990 com grupos como Sonic Youth, Pavement, Suede, Jesus and Mary Chain entre outros mas que teve através do Blur o seu momento mais épico. Evidentemente que após 14 anos da última e fraca apresentação em terras brasileiras, os músicos viriam com o chamado best of, uma coletânea de singles que não não diminuiu o ânimo de um público que aguardava ansiosamente por este momento.

Abrindo com o hit Girls & Boys, faixa de 1994 mas que soa tão atual com os diversos tipos relacionamentos que se pode ter, tem no refrão “always should be someone you really love” a conclusão do porquê a banda ter voltado após um hiato tão grande. Tanto tempo parado parece ter feito bem aos músicos que fazem as suas faixas ao vivo soarem muito mais intensas e vibrantes que em seu formato gravado. Talvez pelo tipo de gravação ou abordagem, tais músicas só conseguem ganhar profundidade e alcance quando Alburn, Coxon, Rowntree e James estão no palco.

There’s No Other Way é mais enérgica, Beddlebum, pesada música sobre o vício do vocalista em heroína, muito mais roqueira algo que Britpop em discos as vezes omite. Famosas baladas dos londrinos não ficaram de lado como Out of Time, To The End e a maravilhosa Tender, momento em que público e banda estavam em perfeita sintonia. Os versos “oh my, oh my” eram reproduzidos em cartazes no meio da multidão e o refrão “love is the greatest that we have, I’am waiting for that feeling to come” compreensível por todos.

Coffee and TV foi um dos ápices da noite, música que foi um dos símbolos dos anos 1990 e popularizada na figura da caixa de leite, ator principal do clipe. Country House, single que deu a vitória pro Blur mas também foi um martírio como pode ser visto no documentário sobre a volta da banda em No Distance Left To Run, foi uma grande festa e evidenciava um tremendo suporte de backing vocals e músicos de sopro que estava lá, algo que coincide com a ideia de intensidade atrelada ao concerto dos músicos.

End of The Century e This is Low não nos fazia esquecer do Pop que vem junto com Brit do gênero e faziam da apresentação algo ainda mais emocionante. No entanto, algo faltava para mexer o público ou trazer o Rock um pouco mais perto e Parklife com a participação especial de Phil Daniels criaram o primeiro bate-cabeça do show, algo que parecia guardado em boa parte dos roqueiros presentes.

Quando saíram do palco já era evidente que retornariam, não porque o bis ser um cliché em shows de encerramento mas também pelo fato de Song 2 não ter sido tocada. Under the Westway, For Tomorrow e a belíssima The Universal separaram banda e público dos prováveis dois minutos mais rápidos e intensos de todo festival. “Wohoo” sendo gritado a plenos pulmões, rodas de pessoas pulando e se batendo como se não tivesse amanhã para que um simples “boa noite” fosse dito ao final.

Pouco comunicativo, Alburn disse que estava muito feliz por terminar a turnê da América do Sul no Brasil, lembrando que a simpatia não é dos adjetivos mais condizentes com Britpop. Mas tudo bem, para um concerto tão esperado após milhares de boatos de eles voltariam para cá depois do retorno aos palcos em 2008, o Blur fez um show que todos esperavam: grandes sucessos com boa interação dos presentes. Demonstraram que vê-los ao vivo é uma experiência totalmente diferente do que escutá-los em disco, um prazer a muito tempo desejado e que pode ser aproveitado com muita intensidade naquela noite.

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ARTISTA: Blur

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.