Planeta Terra Festival 2013: The Roots

Uma aula de Hip Hop e música negra foi dada na tarde ensolarada do Planeta Terra , e permitiu que o grupo norte americano criasse um dos melhores concertos em 2013.

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Fotos: Fernando Galassi
Nota: 5.0

O que difere um músico de uma pessoa que simplesmente tem uma banda? Saber tocar o seu instrumento não necessariamente pode te configurar como um músico da mesma forma que alguém que trabalha numa loja pode ser considerado um vendedor. Saber um ofício não está tão relacionado à profundidade e conhecimento de sua profissão, podendo ser somente o seu ganha pão. Quando você faz o que ama, algumas coisas aparecem e se tornam mais claras, algo que The Roots demonstrou com louvor na tarde ensolarada do último sábado no Planeta Terra.

Eles são músicos. Não só gravam discos, desde 1987, fazem um Hip Hop orgânico e tão plural que se for resumido a somente isso estaremos cometendo um sacrilégio. É Funk, Soul, R&B, Jazz e tudo mais que o contato entre a música e a cultura negra podem prover. São músicos porque não só fazem shows mas também são a banda de apoio do programa de TV do Jimmy Fallon. Ou seja, se você for tocar no programa receberá o belo suporte destes músicos da Filadelfia, algo que os Pixies, Feist, Broken Social Scene, M.I.A., Grimes dentre centenas de outros já receberam. Talvez por isso seja difícil configurar o que eles tocam ou mesmo entender o que se passou no seu incrível concerto.

Comandado pelo rapper Black Thought, um pimp elegante e que se permitiu tomar uma champagne no meio do show (sem faíscas), o grupo tem em cada função um excelente profissional. O aficionado baterista Questlove que além de conduzir os grooves e improvisações com maestria, também faz curadoria de vinis como boxes do Fela Kuti. Temos a tuba de Damon Bryson que é um show a parte, instrumente extremamente pesado e que torna o físico que um instrumento de sopro exige ainda mais necessário.

A apresentação passou por diversos momentos da carreira do grupo e pelos seus 10 discos. Next Movement, Mellow my Man, Proceed demonstravam o seu Hip Hop alternativo, sempre com toques instrumentais diferenciados e levadas jazzísticas que não deixavam o público parado. É impressionante como a criatividade e o fato de ser composto ao vivo, através primeiramente por músicos e não batidas programadas, os diferencia de qualquer outra coisa. É a música em sua forma mais orgânica e sendo transformada em ritmos que se aproximam do melhor da música negra. What they Do provavelmente foi a faixa mais sexy tocada em todo festival

Entre músicas, a improvisação corria solta com abertura para covers interessantes e inusitados. Sendo sempre puxado por Black Thought ou o guitarrista Captain Kirk, músicas como Sweet Child O’mine do Guns n’Roses, Mercy do G.O.O.D Music, Donna Summer com Love to Love You Baby eram colocadas como pequenas pílulas entre as faixas próprias porque o The Roots não conseguia simplesmente parar de tocar. Somebody That Used to Love foi jogada no meio de toda essa mistura e feita a partir de uma base tão simples que quase não foi percebida.

No meio do show, os músicos decidiram somente fazer uma ótima jam session, dando ênfase a cada instrumento. Duas músicas quase foram feitas no meio desta improvisação enquanto membros tomavam champagne e mostravam elegância no ofício. O público pareceu um pouco disperso neste momento o que levou a um representante do festival aparecer no canto do palco e cruzar os braços. Desafiados, deixaram de lado a curtição para jogar um de seus maiores clássicos, You Got Me que em sua versão original tem a participação de Erykah Badu. Mesmo sem sua voz, a música ao vivo ganha ainda mais poder e pode ser considerado o grande momento do show.

Dificilmente alguém conseguia perceber o que estava acontecendo diante de seus olhos e ouvidos, e somente boquiabertos conferiam o concerto perfeito para o pôr-de-sol que já havia se iniciado. Mais algumas músicas de sua extensa carreira foram tocadas como Table of Contents (Parts 1 & 2) e Here I Come para o grande encerramento com o clássico The Seed 2.0, faixa propícia para o Planeta Terra com seus versos “If Mary drops my baby girl tonight I would name her rock’n roll”. Para um festival que procurava trazer o melhor do Rock dos anos 1990 com Blur e Beck, quem havia roubado a cena era o The Roots com caldeirão de música negra feitos a partir do Hip Hop e que de forma exemplar realizaram um dos melhores shows de 2013.

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ARTISTA: The Roots

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.