Rock in Rio 2013: Destaques de 20 de setembro

Veja o que achamos deste dia do festival que contou com bons nomes como Mallu Magalhães, Ben Harper e Bon Jovi

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Fotos: Fernando Schlaepfer/Rock In Rio
Nota: 3.0

Dia sem cara definida nos palcos do Rock In Rio. Gente de todas as tribos, com predomínio total das fãs de Bon Jovi de todas as idades. Impressionante como o público do canastrão competente Jon Bon Jovi se renova ao longo do tempo. Além das admiradoras do sujeito, há um número bem menor de entusiastas da banda e um contingente razoável de namorados, escoltando suas amadas. De qualquer maneira, reina uma certa paz coxinha no dia de hoje.

O primeiro show que nos interessa hoje traz a apresentação de *Mallu Magalhães com participação da Banda Ouro Negro. Sabemos que a jovem cantora – a mais jovem artista a se apresentar nesta edição do Rock In Rio – não é exatamente carismática e divide opiniões sobre seu talento. O que podemos dizer é que Mallu é, ao menos, esforçada e dedicada a procurar uma identidade para seu trabalho. Seu pedido para a Banda Ouro Negro participar de sua apresentação é um sinal disso. A Banda é responsável por divulgar o repertório do falecido maestro Moacir Santos ao redor do mundo, composta por músicos que tocaram com Moacir ao longo do tempo. Santos é um dos expoentes da música instrumental brasileira e seu disco Coisas é um dos mais importantes já gravados. Ao se aproximar dessa gente, Mallu demonstra interesse em buscar algo maior e melhor que seus hits iniciais. Alguém aí lembra de Tchubaruba, do primeiro disco? Pois é.

Com repertório focado em seu último e melhor disco, Pitanga, Mallu ainda padece de timidez e desafinação ao vivo, mas ela é bonita e simpática. Está se soltando, fala com a plateia e dá conta do recado com as boas Ana e Olha Só Moreno, executadas com sua banda habitual. Logo depois entram os quinze integrantes da m Banda Ouro Negro, com Mario Adnet à frente e já fornecem um revestimento musical infinitamente superior ao que havia antes no palco, fazendo de “Tim Dom Dom” e Make Mine Blue, dois momentos interessantes, mas que seriam mais interessantes num espaço menor. A Banda segue sozinha no palco e manda três números instrumentais muito bem azeitados, com destaques para Coisa 6 e Coisa 4. O consequente retorno de Mallu ao palco dá partida na sequência final do show, com destaque para Nanã, na qual ela dá conta do recado e o final com Velha e Louca, com uma recepção calorosa da plateia. Mallu não é cantora de bossa nova, jamais será. Ela é uma jovem, buscando sua identidade musical, precisa melhorar, mas não deve esmorecer pois parece estar no caminho certo.

Ben Harper e Charlie Musselwhite subiram ao Palco Sunset pouco depois das 19:30h, dispostos e com fome de bola. A banda de apoio de Harper, Relentless 7, já mostrou que é capaz de transitar sem problemas entre Rock, Reggae e Blues elétrico, gêneros que fornecem matéria prima para a música que Harper pratica, meio híbrida, nem barro, nem tijolo. Mesmo assim, o rapaz tem crédito e a presença de um venerável bluesman de outros tempos, como Charlie Musselwhite, serviu como um belo aval. Os dois se encontraram em 1997, quando participaram de um tributo a John Lee Hooker e combinaram de fazer algo juntos, o que só aconteceu agora, dezesseis anos depois, por conta do lançamento de Get Up, disco em que os dois dividem a missão de levar um Blues mais rural e endiabrado, um pouco distante das versões mais plásticas que estamos acostumados a ver.

No palco a dupla rende um bom show, apesar da sonoridade parecer mais apropriada à audição em disco, num belo aparelho de som. Ao vivo talvez haja alguma dispersão, mas a impressão é dissipada pelas guitarradas que vêm dos amplificadores. Musselwhite abre mão da gaita e brinda os presentes com um standard de seu repertório, The Blues Overtook Me, emoção pura. Harper se divide entre vocais, guitarra, violão e slide guitar. Do disco conjunto saem versões legais para a faixa título, Homeless Child e I’m Going Home, que vão conduzir ao espetáculo para uma simpática e razoavelmente transgressora versão de When The Levee Breaks, do Led Zeppelin, mostrando que tudo está interligado e faz sentido.

Bon Jovi chegou ao Rock In Rio sem dois integrantes de seu meio de campo: o guitarrista Richie Sambora, para muitos, a única fonte de respeito tecnológico e musical que a banda detém, foi demitido por questões que oscilam no âmbito problemas com bebida/valores. Em seu lugar entrou o jovem Phil X, que já tocou com Alice Cooper, mas também esteve enguitarrando músicas de Kelly Clarkson e Avril Lavigne. Além de Sambora, o baterista Tico Torres também desfalca a banda. Com problemas na vesícula, Torres não pode viajar para o Brasil e foi substituido por Rick Scanella. A verdade é que nenhuma impressão pessoal desses músicos transpareceu ao longo do show, variando entre o previsível e a empolgação da imensa legião de fãs da banda.

Com 20 minutos de atraso, Jon Bon Jovi e sua patota assumiram o Palco Mundo e instauraram seu modelo de diversão: Rock presepeiro, Pop enguitarrado, romantismo de filme da Sessão da Tarde e todas as tranqueiras da cultura Pop juntas, unidas, formado um caldo com pinta de tutti-frutti, como aqueles gelos raspados que os ianques tomam em parques de diversão. É Hard Rock zero peso, tecladinhos épicos de araque, vocais já baleados pela idade mas tudo isso acaba jogando a favor da banda. Jon está vocalmente prejudicado mas o grupo ataca suas Pop songs com profissionalismo irrepreensível. E não dá pra crucificar ou detonar composições como It’s My Life, Keeping The Faith, Runaway, Bad Medicine, Wanted Dead Or Alive, “You Give Love A Bad Name”, entre tantas que surgem em meio a novas músicas do disco mais recente.

O repertório de protocolos de interação com rock e com os fãs é cumprido. Jon chama uma menina no palco e dá beijinho, arrisca uma cover de Start Me Up, só pra confirmar que está meio cansadão e sem voz, além de executar as canções sem qualquer variação em relação às gravações originais. Ainda programa um bis surpresa com um de seus maiores sucessos adocicantes, Always. Mesmo com doses grandiosas de canastrice, quem vai ao show do Bon Jovi espera exatamente o que a banda se dispõe, eficientemente, a fornecer: ideal roqueiro oitentista-atemporal de felicidade instantânea, com tendências grandiosas, na melhor escola Bruce Springsteen de heroismo rock’n’roll. É mal visto, ridicularizado, mas, sinceramente, vale a pena.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.