Sub Pop Festival (Obits, METZ, Mudhoney) – Audio Club, São Paulo

Trinca assinada pelo selo mostrou ótimo repertório em shows potentes e barulhentos

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Fotos: Foto por Flavio Florido/Uol
Nota: 4.0

Criado como uma antena difusora do “som de Seattle”, o selo Sub Pop teve um papel importantíssimo no começo dos anos 90 por dar voz a inúmeras bandas que surgiam no underground norte-americano. Em comum, os grupos assinados pelo selo tinham a predileção por um som cáustico, rápido, feroz, barulhento – o que foi chamado livremente de Grunge, movimento que passeava na verdade desde o Indie Rock até Punk Rock, passando ainda por uma infinidade de outros subgêneros do Rock. Em sua primeira edição no Brasil, o Sub Pop Festival pinçou expoentes de seu catálogo três bons nomes e os trouxe para ótimas e emblemáticas apresentações, que traduziram muito bem essa tradição sonora da gravadora.

Quando o quarteto Obits, formado só por veteranos da cena noventista, subiu ao palco, ainda não se via tantas pessoas na pista do Audio Club, mas o suficiente para notar de longe algumas cabeças se movendo no ar enquanto acompanhavam o ritmo das faixas. Curta, porém impecável, a apresentação do grupo mostrou o peso da experiência e da sabedoria ao escolher um set que, mesmo sem nenhum hit, aquecesse o público para o que estava por vir mais tarde, assim como apresentar aos presentes suas ótimas faixas, desconhecidas da maior parte do público (ao que parece).

Rick Fork e sua voz perfurante conduziram um show potente e cheio de momentos explosivos (alguns, bem próximo do que o músico mostrava há duas décadas ao lado de Drive Like Jehu). As guitarras (de Rick e Sohrab Habibion) deram um show aparte, trazendo melodias agressivas e riffs enérgicos. Tocando boa parte das faixas de seu mais recente álbum, Bed & Bugs, o grupo fez um show econômico em sem muita interação com o público. Alguns poucos “obrigados” e “essa é nossa primeira vez no Brasil” foram ouvidos, mas a banda queria mesmo é aproveitar seu curto tempo no palco e tocar o máximo que podia.

Já com a casa um pouco mais lotada, o trio canadense METZ subiu aos palcos sob olhares mais atentos e palmas mais estridentes. Mesmo antes de começar sua apresentação, quando o trio estava acertando os últimos detalhes e checando seus equipamentos, a animação da plateia já era alta. Toda essa euforia pré-show só aumentou quando Alex Edkins começou a berrar e açoitar sua guitarra com suas palhetadas furiosas, Chris Slorach pular incessantemente ao tocar seu baixo e Hayden Menzies castigar a bateria com suas baquetadas frenéticas.

Se em cima do palco o palco o frenesi tomava conta da banda, logo abaixo o público era tomado pelo mesmo ímpeto. Alguns pulando, outros chacoalhando a cabeça e outros tantos em grande bate-cabeça que se armou a frente do palco, cada um curtia a sua maneira aquela apresentação incendiária do trio. Alguns até tentavam subir ao palco para depois se jogar lá e ser suspenso pela plateia – algo que logo começou a ser impedido pelos seguranças da casa, mas que ainda assim não impossibilitava um ou outro fã de dar seu stage diving. Com apenas um disco na bagagem (e mais alguns singles) a apresentação dos canadenses também não durou muito, mas o suficiente para tocar faixas comemoradas pelo público, como Headache, Get Off, Wet Blanket, Wasted, The Mule e Negative Space, além do mais recente single Dirty Shirt. Ao fim do show, se via muita gente elogiando a apresentação do trio e até mesmo se observava alguns fãs incrédulos do que acabaram de presenciar.

Por último, já com a casa cheia, um dos mais icônicos nomes do Grunge, Mudhoney, subiu ao palco para mostrar seus hits acumulados ao longo de mais de 25 anos de carreiras. Se durante o tempo todo no festival notava-se uma mescla da faixa etária do público, nesse show a média parece ter aumentado um pouco. Muitos, que aparentavam ter seus 30 e poucos pareciam ser maioria em meio a novos fãs do grupo. Notando isso, Mark Arm e companhia fizeram um set composto por faixas de grande parte de seus nove discos.

Ainda que pincelada de hits de outrora, grande parte da apresentação foi baseada em Vanishing Point, disco lançado no passado. Mas não tinha jeito, foram os grandes sucessos do quarteto que movimentaram o público – o colocando para pular e por diversas vezes invadir o palco. You Got It (de Mudhoney, 1989) abriu o desfile de sucessos que viriam a seguir e que conseguiu manter o público animado – pois segundo muitos comentavam na plateia, essa foi uma das apresentações menos enérgicas do quarteto.

Touch Me I’m Sick, Sweet Young Thing (Ain’t Sweet No More), Suck You Dry e Judgement, Rage, Retribution and Thyme foram os pontos altos do show, que se intercalou com momentos mais mornos. O bis veio com faixas como Here Comes Sickness e In ‘N Out of Grace, dessa vez tocadas com mais ferocidade, além de covers de Hate the Police (Dicks) e Fix Me (Black Flag) – momento do show em que as invasões ao palco já estavam descontroladas, com direito a uma fã que beijou Mark e até mesmo outra que fez um topless antes de saltar do palco.

Sem nenhuma demora entre os shows e com um line up bem selecionado (apesar de pequeno), o primeiro Sub Pop Festival foi um sucesso, com direito a banda “revelação” para o trio METZ, que surpreendeu muita gente (e atendeu todas as expectativas do pessoal da redação). Que venham mais edições com outros destaques do catálogo do selo – quem sabe bandas como The Shins, Fleet Foxes e Goat?

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ARTISTA: METZ, Mudhoney, Obits
MARCADORES: Audio Club

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts