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Por: Lucas Borges Teixeira

HYLDON comenta "Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda"

Revisitando Meus Clássicos é um quadro no qual os próprios músicos destrincham grandes álbuns e pérolas escondidas de sua discografia.

Foto: Daryan Dornelles

Mesmo antes de lançar seu primeiro disco, Hyldon sempre teve certeza de que suas composições, baseadas em um Soul com toques de MPB (ou o contrário), seriam populares. A gravadora em que ele trabalhava como produtor e multi-instrumentista pensava diferente.

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Hoje, ao ouvir a faixa-título ou “As Dores do Mundo” tocando em qualquer cidade do país, é possível dizer quem estava certo. Ao Monkeybuzz, Hyldon conta como foi produzir seu grande clássico e revela suas (várias) inspirações.

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Comecei [a fazer] músicas e fiz uma para a abertura do baile. Foi uma escola boa fazer esses bailes porque eu tocava de tudo, né? E fui conhecendo os produtores. Numa dessas, mostrei minha música para o Jairo Pires, produtor, chamada “Eu Me Enganei”.

Daí passei para a produção. Conversei com o Jairo: “Você tá sem produtor, eu tô a fim de produzir porque quero gravar meu disco”. Ele: “Não, você grava seu disco quando estiver pronto”. Então eu fui fazendo disco.

Aí, um dia fui lá e gravei três músicas: “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”, “Meu Patuá” e “Eu Gostaria de Saber”. Virei pro Jairo: “Gravei”. “Como assim tu gravou?” “Cara, tu falou pra eu gravar, eu gravei. Já que eu gravei, deixa eu colocar logo as cordas.”

Bati o pé. 

Meu irmão, o André Midani ficou puto e começou a brecar meu LP, já tinha gravado as 20 músicas. Aí, lançaram o segundo compacto [em 1974] e explodiu “As Dores do Mundo”, comecei a tocar pra caramba. Fiquei em primeiro lugar das paradas…

Aí, liberaram o LP. Eu tinha mais umas 20 músicas. [Mas] tava em plena ditadura. O João Carlos Miller, advogado, mandou me chamar. Pensei: foi censurada “Guitarras, Violinos e Instrumentos de Samba”, é uma música que fala um monte de coisa. Mas sabe qual era?  “Cuidado Pra Não Virar Jazz”, que eu fiz pro [pianista] Hélio Celso e não tinha letra. Era só [cantarola a melodia], aí no final: ”cuidado pra não virar jazz” e tinha um jazzinho. [emula jazz] Os caras censuraram essa música, cara!

Tenho muito ritmo, muita mão direita, muito swing, é uma coisa natural. Porque música você pode aprender, mas swing nasce com você. Também pelo fato de eu vir de baile, ter formação de rádio, de música popular. 

Pô, meus ídolos são de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro a Stevie Wonder e Marvin Gaye. Então é uma mistura disso tudo, sabe?

Eu sou isso mesmo, de misturar.  [“Guitarras, Violinos e Instrumentos de Samba”] o arranjo é todo meu, praticamente. Tem quatro cuícas, cara, os quatro melhores cuiqueiros da época. [Na gravação,] eu falei: 

“Agora é o seguinte, quando chegar no final solo de cuíca!” E o violino também já tava no arranjo.

Quando eu faço uma música, penso nela já pronta. Por exemplo, “As Dores do Mundo” eu já tinha a introdução.

Eu fiz “As Dores do Mundo” porque aquele cara era chato pra caralho, aquele [filósofo alemão Arthur] Schopenhauer. [risos] “Vou fazer uma música pra mandar esse cara tomar no cu, pô. Que negócio é esse de não acredita no amor?” [risos] Eu quis dar uma cutucada nele.

Eu sou apaixonado por passarinho, por céu, por cores… Eu tenho uma ligação muito forte com a natureza, com o mar. Amo planta, amo passarinho solto. Então esses elementos entram na minha música. “Na Sombra de uma Árvore” tem um passarinho ali que é sabiá-laranjeira.

Eu sempre tive uma sorte que os vocais com quem trabalho são muito bons. Nessa [“Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”], dei uma sorte danada que participou uma americana… Sheila Wilkerson. Ela tava aqui na época da gravação, chamei pra gravar. Por isso que o “tchu tchu tchu ru tchu” tem uma pegada de negão, tem um vibrado. Ela que organizou as vozes.

[“No Balanço do Violão”] é um mantra. Um mantra, assim, muito puro, na verdade. Não tem nada de xaveco. [risos] O violão tem esse poder. Nessa época, eu também eu li muita coisa do [dito monge] Lobsang Rampa, terceira visão. Fazia exercício de yoga, sabe?

“Sábado e Domingo” também tem essa coisa, de ficar repetindo. Isso é mantra, né?

Eu faço tudo com muito amor, com muita dedicação, sabe? Estou trabalhando muito. Hoje, trabalho sozinho. E, quanto aos discos, faço meu disco, pago todo mundo, banco. Vou fazendo as empreitadas, tenho meus parceiros. É isso, cara.