Foto: André Seiti

Por: Lucas Borges Teixeira

JARDS MACALÉ comenta seu disco de estreia

Revisitando Meus Clássicos é um quadro no qual os próprios músicos destrincham grandes álbuns e pérolas escondidas de sua discografia.

Foto: André Seiti / Itaú Cultural

Jards Macalé era um músico em ascensão no início dos anos 1970. A aguardada estreia se dá em 1972, com um álbum homônimo, que trouxe os êxitos “Mal Secreto” e “Vapor Barato”, consagrados na voz de Gal Costa.

Foto: José de Holanda / Divulgação

Quase cinco décadas depois, em uma entrevista por telefone direto “do meio do mato”, na serra fluminense, o tijucano ajuda a esmiuçar seu clássico. Um “misto de João Gilberto com Jimi Hendrix” gravado durante os anos de chumbo da ditadura militar.

Foto: Reprodução

Fomos para o porão do Teatro Opinião, no Rio de Janeiro. E aí a gente preparou um disco. Ensaiamos, fomos gravar.

[As músicas] vêm desde 1969, praticamente.

Foi praticamente gravado ao vivo.

[Farinha do desprezo] é toda estranhamente quebrada e tal, que é uma característica minha mesmo, fazer a coisa toda estranha.

Ela não tem diretamente ligação com drogas, mas, naquela época, a gente fumava muita maconha. 

Na praia, em Ipanema, era um negócio maluco. Nesse disco, não foi tomada nenhuma droga, aliás, porque todo mundo ali era careta nesse sentido, para gravar.

O Waly [Salomão] foi preso em São Paulo com uma bagana no bolso, um restinho de maconha. A Rota pegou ele jogou no Carandiru. Quando ele saiu, foi morar em Niterói.

E ele escreveu, dentre outras músicas, “Revendo Amigos”. É como se tivesse entrado no Carandiru, teve o sentimento de morte, aquela coisa horrorosa, e, quando saiu, escreveu:

“Eu vou, mato, morro, e volto para curtir”.

O original já era “volto para curtir”, mas com a música toda cantada, no retorno ele diz “volto para cuspir” e, aí, os caras implicaram com “cuspir”. Mas ele voltou para “curtir” e fim de papo.

“Mal Secreto” é lindo, né?

É que a gente tava naquele momento, naquela época, muito carregado com essas coisas: indignação, emoção exacerbada à flor da pele, e aquele ambiente de loucura, Pop, influenciado por Jimi Hendrix, Bob Dylan, aquele pessoal. Então, ficou tudo impresso também nesse negócio.

Esse disco sobreviveu esse tempo todo – tanto que a gente tá conversando sobre ele –, mas ele é sobre aquele momento daquela época.

“Movimento dos Barcos” é uma canção lírica que eu fiz de uma vez só. O Capinam me deu a letra e eu fui lendo e cantando a letra inteira.

“Meu Amor Me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata” é um samba canção, digamos assim. 

Também daquele jeito estranho, eu gosto de fazer as coisas estranhas. Aliás, eu não gosto, não – elas saem estranhas.

Esse disco de 1972 é um misto de Jimi Hendrix com João Gilberto, 

passando por Tom Jobim, 

passando por Baden Powell, 

passando por Vinícius de Moraes, 

passando por Newton Mendonça, 

passando… né?