Foto: Lucas Seixas/Folhapress

Por: Lucas Borges Teixeira

LÔ BORGES comenta "Disco do Tênis"

Revisitando Meus Clássicos é um quadro no qual os próprios músicos destrincham grandes álbuns e pérolas escondidas de sua discografia.

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A vida de Lô Borges sofreu uma reviravolta no início dos anos 1970. O mineiro foi convidado, em 1971, para gravar um álbum com o amigo Milton Nascimento, um dos mais populares artistas nacionais da época.

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O Clube da Esquina, hoje um dos mais cultuados álbuns da música brasileira, mal saiu e o jovem, aos 20 anos de idade, recebeu um novo convite da gravadora: gravar um disco solo para sair naquele mesmo 1972. Ao Monkeybuzz, o mineiro conta como foi o corrido e inspirado processo criativo do álbum (“uma maluquice!”), fala sobre suas influências e as histórias por trás das composições.

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Eu era um compositor meio que estreante. O Milton me chamou para gravar um álbum chamado Clube da Esquina para homenagear a esquina que eu ficava sentado tocando violão com meus amigos de bairro. Eu arregacei as mangas e comecei a compor, confirmando que eu poderia ser um compositor.

Eu passei meses morando com o Milton, compondo as músicas. Era primeira vez que eu tava entrando num estúdio. Eu era totalmente inexperiente, incipiente, começando a minha trajetória.

O Clube saiu no primeiro trimestre de 72, foi gravado basicamente no segundo semestre de 71. Eu tinha 19 anos. Aí saiu o Clube da Esquina, o pessoal da gravadora, eles gostaram do resultado, gostaram das músicas e me ofereceram um contrato para fazer um disco naquele mesmo ano.

Só que aí foi um certo sufoco, porque parti dum zero absoluto e comecei a fazer músicas, uma atrás da outra. Eu tinha que ir para o estúdio com músicas, então era, assim, um processo muito enlouquecido.

["Não Foi Nada"] é uma composição que eu acho que, mesmo que na época eu não conhecesse muito o trabalho do Hermeto [Pascoal], é meio Hermetopascoaliana. É uma letra super enigmática que eu mesmo fiz. “Sonhei que eu nunca existi; E vi que eu nunca sonhei”.

“Aos Barões” é minha, integralmente. Inclusive eu toco piano e faço os solos de guitarra. É uma narrativa da vida que eu tinha em Belo Horizonte.

A letra de “Como o Machado” aponta exatamente nesse sentido. “Por que ando triste eu sei; É que eu vivo na rua”. Por que que eu tô triste quando ando na rua? Porque a rua era repressão. A rua era polícia, a rua era falta de liberdade. A rua era a ditadura.

A rua era a ditadura. “A verdade é negra, eu sei; E o homem é mau”. O “homem mau” era o ditador de plantão, era a ditadura em si.

A gente tocava muita coisa de Chico Buarque, de Tropicália, Tom Jobim… e Beatles. Muito Beatles. Os Beatles foram determinantes pro começo da minha carreira, sempre fui fã. Aí, quando eu queria tocar alguma coisa da minha cabeça, eu tocava Chico Buarque.

Tem uma coisa que liga aquele momento com o momento de hoje da minha vida: 

sou um cara totalmente aficionado pela composição. Eu me apaixonei pela composição na época e até hoje sou apaixonado pela composição.

Eu me apaixonei pela composição na época e até hoje sou apaixonado pela composição.

No último ano e meio, eu fiz dois discos de inéditas, compus vinte músicas – dez com o Nelson Ângelo, dez com o Makely Ka – e, antes da pandemia, eu compus quatro músicas com o Marcio Borges, parceiro que fazia tempo que não compunha. 

Acho que foi muito determinante eu ter feito o Tênis quando eu era um adolescente para o que veio a ser minha vida de compositor nos anos 2000.

O meu filho, que tem 21 anos hoje, quando ele tinha dez anos, perguntaram para ele: “O que você acha do Disco do Tênis do seu pai?”. Aí ele falou assim: “São coisas malucas de lugares distantes”. [risos] Faz o maior sentido. A melhor definição que ouvi do Disco do Tênis foi do meu filho com dez anos de idade.