A música africana de hoje em 11 discos

Por: GG Albuquerque

Foto: Pan African Music

A lista a seguir é uma introdução a alguns dos movimentos musicais contemporâneos do continente. São 11 discos, divididos por cada região da África. É um convite a mergulhar e descobrir uma parte da infinitude sonora do continente, em toda sua multiplicidade.

Foto: Enzo Orlando

África Setentrional (Norte)

EEK feat Islam Chipsy – Kahraba (2015, Egito)

O Electro-chaabi (ou Maharagadan, como é conhecido dentro do Egito) é um movimento de música eletrônica que nasceu no contexto da Primavera Árabe nas periferias do Cairo, resultando em uma fusão caótica e revigorante de música árabe com eletrônica e freestyles de Rap.

EEK e Islam Chipsy é um trio que produz um som comprimido, ácido e agressivo — e ainda assim permeado por um groove irresistível, com viradas que lembram as bacurinhas do pagodão baiano.

Bab L’Bluz – Nayda (2020, Marrocos)

Bab L’Bluz é um quarteto franco-marroquino que tem como base sonora o Gnawa, prática musical centenária de países islâmicos do Oriente Médio e da África Subsaariana.

Foto: Bab L’Bluz

Os instrumentos tradicionais do gênero (o awicha e o guembri) evocam climas musicais que vão da psicodelia dos anos 1960 ao Blues árido dos tuaregs.

África Oriental (Leste)

Vários artistas — Sounds of Sisso (2017, Tanzânia)

A coletânea é uma excelente introdução ao Singeli, cena que há cerca de 15 anos movimenta as periferias da megalópole Dar Es Salaam e vem tomando os circuitos da música eletrônica experimental.

Ainda que a torrente de beats desenfreados provoque um êxtase semelhante ao de outros gêneros acelerados (até mesmo como o Funk Carioca), o Singeli causa um arrebatamento especial.

MC Yallah – Kubali (2019, Quênia/Uganda)

MC Yallah é uma rapper queniana residente em Uganda. Depois de soltar singles e um EP, ela se uniu ao produtor alemão Debmaster para seu álbum de estreia.

Foto: DeLovie Kwagala (The Wire 438)

O disco exibe seu flow feroz e meticuloso entre beats esparsos e industriais de tonalidades Dancehall.

África Ocidental (Oeste)

Fra Fra – Funeral Songs (2020, Gana)

Há décadas, o trio Fra Fra canta em cerimônias funerárias na zona rural de Tamale, no norte de Gana. Acompanhado por um kolologo de duas cordas e percussões feitas com cabaças, o vocalista Small lança sua voz em incursões passionais e expansivas sobre a finitude da vida.

O disco foi gravado ao vivo pelo produtor musical Ian Brennan no quintal do vocalista. As letras em língua frafra são incompreensíveis para nós, mas o canto retumbante é poderoso e ressoa profundamente na alma.

Supreme Talent Show – Danbe (2015, Mali)

O coletivo Supreme Talent Show é um ponto de convergência de culturas afro-diaspóricas.

Os DJs e MCs absorvem influências do Dancehall, Rap, Kuduro e Trap — além dos batuques dos talking drums e do balafon malinês — e apresentam uma assinatura musical própria.

África Central

Tshegue – Survivor (2017, Congo)

O EP Survivor é, até o momento, o único disco do duo formado pela vocalista Faty Sy Savanet e o percussionista e produtor musical Nicolas “Dakou” Dacunha.

Foto: Enzo Orlando

Promissor, o álbum é uma vibrante combinação de polirritmia com texturas mais pop da Bass Music.

Nazar – Guerilla (2020, Angola)

O Kuduro é um movimento cultural intimamente ligado ao pós-guerra civil de Angola e às cicatrizes de quase 30 anos do conflito armado no país.

Nazar expõe os nervos desse pano de fundo político em seu álbum de estreia, que apresenta uma espécie de Kuduro bélico, com beats distorcidos entre ruídos cacofônicos e sons de tiros.

Pérola – Mais de Mim (2015, Angola)

Pérola vem se firmando como uma verdadeira popstar em Angola. Seu lirismo romântico é inspirado pela Kizomba, mas não se limita a ele e bebe também do Semba, do R&B e do Pop.

Seu álbum mais recente conta com participações de cantores icônicos do romantismo angolano (como Nelson Freitas, C4 Pedro e Anselmo Ralph) e até um dueto com Ivete Sangalo.

África Meridional (Sul)

Griffit Vigo – DJ / Gqom 6 (África do Sul)

Gerado a partir das fusões entre o Kwaito e o Techno, o Gqom é a música mais popular a sair da África do Sul recentemente, conquistando as pistas do circuito Global Bass, os festivais de música eletrônica e até o Pop.

Griffit Vigo imprime ao gênero climas mais sombrios, em beats que lentamente acumulam uma tensão hipnótica. Em 2020, saiu um feat seu com a DJ e produtora gaúcha Saskia.

Verb Wayz – You Have Been Warned (Namíbia)

A repressão política e racial sofrida pelo apartheid na Namíbia, sob controle da África do Sul, sufocou o desenvolvimento musical do país, mas não a criatividade dos seus povos. O país ficou conhecido pelos artistas do Kwaito, mas também possui uma cena crescente de Hip Hop.

Bom exemplo é Verb Wayz, membro do coletivo Cave Men Music, que apresenta um Rap experimental de sonoridades esfumaçadas em seu álbum de estreia.